domingo, 14 de julho de 2024

Sou mesmo, às vezes, um fracote

 

Eu sou fracote mesmo. Às vezes. Nem sempre. Certo? Outra coisa. Fracote, sim, mas não como aquele indivíduo da fraquejada. Que ninguém venha confundir as coisas. Por que sou fracote? Porque, às vezes, vacilo diante de certas situações, mesmo em relação a algo que fiz sem maldade e propositadamente, refletidamente. É natural isso? Penso que é. Sou homem e, por isso, sinto medo, fico em dúvida, hesito, e assim por diante. Sou homem e, por isso, imperfeito. Tenho muito medo dos donos da verdade, mas – estou convicto – eles não existem. Ainda bem! 


Escolhi propositadamente o título da minha crônica mais recente, “Coisa, coisar e colear”. Sou, como advogado, um profissional da palavra. Além disso, sou cronista e, se não bastara, concluí em junho o segundo ano da graduação em Letras – Português e Inglês. Estou cursando Letras porque amo a Língua Portuguesa. Gosto, por tudo isso, de brincar com as palavras. Daí a escolha de muitos títulos de crônica e, não raramente, as construções gramaticais que alguns, talvez muitos, acham estranhos. Muitos, aliás, vão além: pensam que me enganei ou, sei lá, até dizem que tenho mau gosto. 


Bastou, pois, que alguém muito famoso me questionasse agora há pouco pelo WhatsApp, para que eu imediatamente vacilasse e até pensasse que fizera besteira com o título dado à crônica – o qual, repito, foi escolhido propositadamente. Hesitei. Tive, momentaneamente, receio do ridículo. Depois, exultei ao pensar comigo mesmo: “Que nada! Sou advogado e cronista, um profissional da palavra. Se alguns não gostam de brincar com as palavras, o problema não é meu. Minhas brincadeiras até podem ser sem graça, mas aí já é outra história. Tudo bem com o título.” Falta de bom senso ou autocrítica? Não. Apenas convicção. 


Qual foi o questionamento? Este: “O que é Coisa, coisar, colear? Um livro? De quem?”, escrevera o amigo. Quando vi a mensagem, ele estava off-line. Respondi: “Boa tarde! É o título da minha crônica de hoje.” Fui cozinhar o arroz do almoço com o episódio na cabeça. Lá, resolvi escrever a crônica, ou seja, mais uma insignificância literária vem a lume. Como o diálogo foi apenas esse aí, não sei se a pergunta do amigo decorreu de estranhamento ou não. Talvez tenha me assustado irrefletidamente. Vai que ele nem havia achado estranho o título. Sei lá. Gostei porque me rendeu mais uma crônica. Maravilha! 


Quanto ao verbo colear, já o conheço não é de agora. Amo as abonações literárias. Otto Lara Resende, no quarto e penúltimo parágrafo da crônica “A rua, a fila, o acaso”, deixou esta bela abonação: “Quando dei comigo de volta, estava espiando uma fila que coleava pela calçada.” De Augusto dos Anjos, colho este rasgo: “No chão coleia a lagartixa.” E de Eduardo Frieiro este: “Um córrego de águas límpidas coleia em amplas curvas sobre um leito de pedras.” Os dois últimos exemplos são do Aurélio, que, além dessas, dá várias outras abonações. Colear, por sinal, tem além desse outros significados. 


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