Na crônica “Mas
isto fala!”, de 30 junho de 2024, Ruy Castro, imortal da Academia
Brasileira de Letras, relembra a ligação de Alexander Graham Bell para D. Pedro
II. Leio as crônicas de Ruy na Folha de
S. Paulo e na página da academia, seção Artigos da aba Acadêmicos. São dois
locais virtuais em que também lia Carlos Heitor Cony. Eu era também leitor
cativo, aos domingos, de João Ubaldo Ribeiro, na página da academia e na versão
online do jornal O Globo. Anos antes da internet, aliás, eu já lia Cony, Ribeiro,
Carlos Chagas e outros cronistas famosos na Manchete,
revista impressa. Na revista Caros Amigos,
também impressa, lia Ana Miranda e Frei Betto.
Sou inconformado com a
perecibilidade das coisas, das pessoas e das instituições. Deus “pôs a
eternidade no coração do homem”, diz a Bíblia
em Eclesiastes, capítulo 3, versículo
11. Está explicado. Existem divergências quanto à tradução desse versículo,
mas, polêmicas à parte, prefiro a versão revista e atualizada (conhecida pela
sigla ARA) da tradução de João Ferreira de Almeida. Esta: “Tudo fez Deus
formoso no seu devido tempo; também pôs a eternidade no coração do homem, sem
que este possa descobrir as obras que Deus fez desde o princípio até ao fim” (Ec 3.11).
As coisas, as instituições e
as pessoas se vão, aceitemos ou não, mas não devemos nos esquecer delas. Não se
deve jamais esquecer o passado: se foi bom, deve ser lembrado porque foi bom;
se foi ruim, deve ser lembrado para que não se repita. Oportuna mais uma lição
bíblica sobre olhar o passado. O breve relato da criação traz uma lição à qual gosto
de recorrer (Gênesis, capítulo 1,
versículo 31, parte a): “Viu Deus
tudo quanto fizera, e eis que era muito bom.” Eu gosto de olhar para o passado.
Ruy Castro também gosta.
Além de gostar de escrever
crônicas sobre livros, filmes e outras produções do passado, Ruy Castro é
biógrafo de personalidades ilustres. Escreveu, que me lembre, as biografias de Carmen
Miranda, Garrincha e Nelson Rodrigues. É, sem dúvida alguma, autoridade no
assunto e, ao valorizar tanto o passado, contribui significativamente para
nossa cultura. Bem merecida, pois, e muito justa a sua eleição para imortal da
Academia Brasileira de Letras.
Carlos Heitor Cony, João
Ubaldo Ribeiro, Rachel de Queiroz e Rubem Braga, dentre tantos outros cronistas
famosos do passado recente, partiram (involuntariamente, é óbvio) para
eternidade e nos deixaram. Sua riquíssima produção, porém, continuará, viva e sedutora,
na mente e no coração dos leitores, que com isso só se beneficiam. Graças a
quem? Graças aos escritores e editores que, sem descuidar do presente e do futuro,
amam e preservam o passado.
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