domingo, 12 de novembro de 2023

Homenagem a Dilson Gomes de Almeida na Instalação do Consistório de Príncipes do Real Segredo, no Vale de Xinguara, Estado do Pará

 

Resp e Pod Ir Valby Ferreira Camargo, Grande Inspetor Litúrgico da 3.ª Região do Estado do Pará do Supremo Conselho do Grau 33 do REAA da Maçonaria para a República Federativa do Brasil, IIr Presidentes de Corpos, demais IIr∴, Cunhadas, Sobrinhas, Sobrinhos, Senhoras e Senhores convidados!

Foi da vontade santa, bendita e soberana do GADU, que é Deus, estarmos aqui reunidos nesta hora para esta homenagem ao nosso Ir Dilson Gomes de Almeida, que, partindo para a eternidade, nos deixou em 4 de junho de 2020, vitimado que foi pela covid-19, na pandemia que feriu gravemente e assustou a humanidade, levando a óbito milhões de pessoas em todo o mundo. Pandemia, evidentemente, é sempre mundial. O que faz a diferença é o número de mortos.

Nosso homenageado, Dilson Gomes de Almeida, filho do casal de lavradores José Gomes de Almeida e Antonia de Queiroz Almeida, era natural de Boninal, Estado da Bahia, onde nasceu em 6 de maio de 1945. Viveu a infância e adolescência na zona rural, na propriedade da família, lavrando a terra e cuidando dos animais. Ainda menor, deixando os pais na Bahia, mudou-se para São Paulo, onde ficou por vários anos. Voltou para a Bahia após da morte da mãe e por fim, em 1977, veio para o Estado do Pará, onde faleceu nesta cidade de Xinguara, no já citado dia 4 de junho de 2020.

Sabia ler e escrever, apesar de não ter seguido estudos regulares. Foi casado com dona Vera, com quem teve dois filhos. Exerceu várias profissões na vida. Foi lavrador, servente de pedreiro, motorista, comerciante e produtor rural, formas pelas quais contribuiu, desde tenra idade, para o desenvolvimento econômico-social do país. Trabalhou a vida inteira, honesta e ordeiramente, por onde passou. Era modesto, muito discreto e, naturalmente, de pouca conversa. Falava, porém, mansa e educadamente.

Com todos esses predicados, era de se esperar que logo se tornasse, como se tornou, membro da Maçonaria. Iniciado nos augustos mistérios de nossa Sublime Ordem, no dia 13 de novembro de 1981, recebeu o grau de aprendiz maçom na ARLS União e Fraternidade Xinguarense n.º 45, foi elevado ao grau de companheiro maçom no dia 10 de dezembro de 1982 e exaltado ao grau de mestre maçom em 17 de maio de 1983, sempre na mesma Loja. Era mestre instalado e, como maçom muito dedicado, galgou todos os graus do REAA, chegando, por conseguinte, ao grau 33, qual seja, o grau de Grande Inspetor Geral.

Além disso, Dilson Gomes de Almeida era evangélico, membro efetivo da Igreja Presbiteriana do Brasil, na qual foi ordenado presbítero, cargo que nessa igreja é vitalício. Vale registrar, aliás, que a Igreja Presbiteriana do Brasil, não obstante de uns anos para cá, tal como fazem as demais igrejas evangélicas, perseguir os membros maçons, ainda é a igreja evangélica no Brasil que tem o maior número de maçons. Existe, inclusivamente, por causa dessa perseguição, o livro intitulado O Evangelho e a Maçonaria: uma parceria que deu certo no Brasil, de autoria do Dr. Athos Vieira de Andrade, presbítero e maçom, tal qual presbítero e maçom – perseguido, é lógico – é este Irque lhes fala.   

Em apertada síntese, foi esse, meus RResp e PPod IIr, o nosso homenageado, sobre quem me foi dada a incumbência de falar nesta solenidade. A honra, naturalmente, é grande. A alegria, também. A alegria só poderia ser maior evidentemente se não fora, como é, in memoriam, ou seja, se o nosso Ir Dilson, vivo, estivesse aqui conosco. Diante disso, conquanto se trate de um dia de festa, permitam-me que, antes de encerrar, faça uma ligeira reflexão sobre a morte. É, por incrível que pareça, muito oportuna para este momento alegre e festivo. Começo, pois, pela definição de morte que dou em um dos meus livros (SOUZA, 2018, p. 31):

 

A morte, que é a morte? A morte, conquanto seja um fenômeno complexo, é, na definição mais simples, a cessação da vida. Terrível, temida e, por isso, indesejada, é a realidade da qual não pode jamais fugir todo ser vivo, até porque, por paradoxal que pareça, ela faz parte do processo vital, completando-o como terminalidade: a morte é o fim da vida. Não é, contudo, um momento, é um processo gradativo. Dir-se-ia até que a morte é um processo gradativo e, não raro, naturalmente silencioso.[1]

 

Todos nós, a cada dia, morremos um pouco. Sem perceber, mas morremos. Com efeito, como médico, diz Genival Veloso de França (2001, p. 343): “Das coisas terríveis, a mais terrível é a morte, porque é uma, porque é certa e porque é imprevisível. Mais grave, porém, que a imprevisibilidade da morte é a certeza da morte certa.”[2]

Do ponto de vista bíblico-teológico, morte significa separação. Para a maioria dos teólogos, separado o corpo da alma ou espírito, tem-se a morte física. Separada a alma ou espírito da presença de Deus, tem-se a morte eterna. A Maçonaria, porém (não nos esqueçamos jamais), crê na imortalidade da alma! E daí vem a nossa esperança em Cristo, a de que não sofreremos a morte eterna!

O apóstolo Paulo, escrevendo aos romanos, pergunta: “Quem nos separará do amor de Cristo” (Rm 8.35). E, logo mais à frente, firmemente ele mesmo responde:

 

Porque eu estou bem certo de que nem a morte, nem a vida, nem os anjos, nem os principados, nem as coisas do presente, nem do porvir, nem os poderes, nem a altura, nem a profundidade, nem qualquer outra criatura poderá separar-nos do amor de Deus, que está em Cristo Jesus, nosso Senhor (Rm 8.38-39).[3]

 

A Bíblia nos assegura, meus RResp e PPod IIr, que a morte será vencida. Para não ser mais cansativo do que estou sendo, citarei aqui apenas uma passagem bíblica. Paulo, escrevendo aos coríntios, diz (negrito nosso):

 

Porque, assim como, em Adão, todos morrem, assim também todos serão vivificados em Cristo. Cada um, porém, por sua própria ordem: Cristo, as primícias; depois, os que são de Cristo, na sua vinda. E, então, virá o fim, quando ele entregar o reino ao Deus e Pai, quando houver destruído todo principado, bem como toda potestade e poder. Porque convém que ele reine até que haja posto todos os inimigos debaixo dos pés. O último inimigo a ser destruído é a morte. (1 Co 15.22-26).

 

 Louvado seja o GADU, que é Deus! Alegremo-nos, tanto em relação ao presente quanto em relação ao futuro. Quanto ao presente, porque perenizamos aqui o nome do nosso Ir Dilson com a designação do corpo filosófico ora instalado, chamando-o oficialmente de Consistório de Príncipes do Real Segredo “Dilson Gomes de Almeida”. Quanto ao futuro, porque cremos que o nosso Ir morreu a morte física, separado que foi seu corpo de seu espírito, mas viverá, como já vive, a vida eterna com Deus em Cristo Jesus.

Viva Dilson Gomes de Almeida!  



[1] SOUZA, Valdinar Monteiro de. Direito de recusa do paciente à transfusão de sangue e a outros procedimentos médicos. Rio de Janeiro: Gramma, 2018.

[2] FRANÇA, Genival Veloso de. Medicina legal. 6. ed. Rio de Janeiro: Guanabara Koogan, 2001.

[3] BÍBLIA SAGRADA. Bíblia de estudo de Genebra. São Paulo e Barueri: Cultura Cristã e Sociedade Bíblica do Brasil, 1999.  

 

sábado, 4 de novembro de 2023

Matar leão que nada: correr das antas!

 

 “Matar um leão por dia é fácil, difícil é se desviar das antas”, escreveu uma vez Eugenio Caetano Allegretti Neto, meu irmão de Maçonaria, ao comentar algo que escrevi no Facebook. Já não me lembro do contexto exato nem do assunto em si. Achei, entretanto, interessante o dito espirituoso, que é corrente na linguagem informal do dia a dia e tem um fundo de verdade. A gente – sem maldade o digo – vive a esbarrar involuntariamente a todo instante em pessoas insensatas que ignoram a própria insensatez. O perigo mesmo, porém, são os canalhas. Os insensatos são quase sempre inofensivos e, não muito raramente, também vítimas dos canalhas. O azar de deparar insensatos e canalhas me persegue.

Não raramente, termina em aborrecimentos o contato com quem – seja por maldade, seja por estultice – perde a oportunidade de ficar calado e mete o pé pelas mãos. Não sou contra, por exemplo, dizer ou escrever o óbvio, porque estilisticamente, às vezes, isso é necessário e não ofende. Gosto mesmo de dizer ou escrever o óbvio. Nem tudo que parece ser óbvio realmente o é. Detesto, contudo, quem diz ou escreve o óbvio apenas para ferir ou aborrecer o interlocutor, assim como tenho dó de quem o faz por mera tolice ou insensatez. Ih, como já tive dissabores desnecessários por causa disso! Não, não é falta de serenidade, é repúdio puro e simples à ignorância voluntária e à desonestidade.

Isso me traz à lembrança a Dr.ª Clarissa de Cerqueira Pereira, quando, brincando, me disse certa vez, na Câmara Municipal de Marabá, onde trabalhávamos como advogados: “Doutor, eu estou ficando com medo do senhor!” É que eu, volta e meia, contava histórias das minhas brigas pela vida afora (ou adentro, neste caso, tanto faz) com os canalhas e os insensatos que, para meu dissabor e tristeza, me atravessaram o caminho. Brincadeira dela, claro. Jamais vou brigar com a doutora Clarissa. Ela, a elegância em pessoa, não é canalha nem insensata. Colega da seara jurídica, amiga e minha sobrinha de Maçonaria, ela tem lugar cativo no meu coração.

Sempre vivi, sim, às turras com os canalhas ou calhordas, mas também com muitos insensatos – com muitas antas, como diz o Eugenio. O serviço público, por exemplo, mas não somente ele, está cheio de ambas as categorias, que infestam, como praga, todos os lugares e instituições. Em se falando de pulhas, não são somente os reconhecidamente canalhas. Mais perigosos e piores do que esses – que, sendo visíveis, são até certo ponto evitáveis – são os mascarados. Esses, que sempre existiram, mas aumentaram sobremaneira nos últimos anos, dentre outras mentiras deslavadas, se autodeclaram cidadão de bem, defensor do interesse público, defensor da liberdade, defensor da democracia, posam de autoridade, e assim por diante.  

Sou homem e, por isso, imperfeito. É como há muito me defino. Tenho convicção das minhas imperfeições, que são muitas, e, assim, embora tenha errado muitas vezes na vida e, por certo, continuarei errando enquanto viver, procuro seguir os caminhos que julgo corretos. Isso, porém, nunca me foi suficiente para evitar os canalhas, idiotas, imbecis ou coisa que o valha. Há sempre o infeliz que – se não se manifesta em vez de ficar calado –, no mínimo, passa de onde deveria fazer o ponto final. Ignora onde deveria parar. E aí causa aborrecimentos inúteis e desnecessários. Cruz-credo!