“Universidades estão em
obras há 16 anos, e Lula promete novos campi”, dizia a manchete de uma
reportagem do jornal Folha de S. Paulo,
de 23 junho de 2024, manchete que li no BOL
Notícias. “O campus de Unaí da UFVJM (Universidade Federal do Vale do
Jequitinhonha e Mucuri), em Minas Gerais, completou dez anos de existência na
última quinta-feira (20)”, dizia por sua vez a primeira frase do texto. Pois
bem. Vê-se aí o emprego de campi e de
campus, palavras em latim. O jornal,
aliás, não as pôs, como deveria pôr, em itálico, negrito ou entre aspas, já que
são palavras estrangeiras.
Gostei. E aproveitei a
deixa para escrever uma crônica. Para começo de conversa, deixa é substantivo
feminino, de formação regressiva do verbo deixar. Campus é substantivo masculino e seu plural é campi. Campus e campi são palavras latinas que foram cristalizadas
em português na forma que elas têm no nominativo em latim. O público em geral,
porém, não deve se preocupar com essa explicação. É simples. Basta saber que campi é plural de campus, coisa que muitos não sabem. Embora não saber disso não seja
por si só nenhum demérito, é importante saber.
Lembrei-me do que me
contou há alguns anos um amigo, ex-aluno, como eu, da querida Universidade
Federal do Pará – Campus de Marabá. A
Universidade Federal do Pará tem muitos campi.
Um deles era o Campus Universitário de
Marabá, depois transformado em Universidade Federal do Sul e Sudeste do Pará
(Unifesspa), campus em que cursei o
bacharelado em Direito, de 1996 a 2002. Como se vê, um ano a mais do que o
convencional. É que, devido a problemas pessoais, fiquei exatamente um ano sem
estudar. Coisas da vida.
Na aula – segundo ele –,
um aluno perguntou a um dos professores vindos de Belém, se o correto era campus ou se era campi. O professor viajou na maionese e respondeu que a diferença é
que campus é da capital e campi é do interior. Explicação errada,
claro. Uma universidade pode ter dois ou mais campi na capital e nem um no interior. Bastaria ter dito que campi é o plural de campus. Simples. Ensinou erradamente à classe inteira, e o erro, naturalmente,
se propagou no tempo e no espaço. Que pena! Será que foi falta de humildade?
O fato ocorreu faz
muitos anos. A regra, porém, continua inalterada. Alguns até defendem, já faz
algum tempo, o aportuguesamento de campus
para câmpus, palavra esta que ficaria invariável, comum de dois gêneros: o
câmpus, os câmpus. É o caso, por exemplo, de um professor que tive, o gramático
e latinista Napoleão Mendes de Almeida, no seu famosíssimo Dicionário de questões vernáculas. Tive a honra de ser aluno do seu
curso de português, conquanto, por questões financeiras à época, infelizmente
não tenha conseguido concluir o curso! Napoleão era imbatível, no português e
no latim.
É cientificamente
possível esse aportuguesamento. Como aconteceu, por exemplo, com as palavras
latinas onus e virus, aportuguesadas, respectivamente, como ônus e vírus. Ele, contudo,
ainda não foi adotado pela Academia Brasileira de Letras, que tem oficialmente a
autoridade para isso. O Vocabulário
Ortográfico da Língua Portuguesa, na edição atual, inclusivamente na versão
eletrônica, continua a registrar apenas a forma campus, substantivo masculino. E, claro, como palavra estrangeira, latim.
Para mim, não deve mudar. É tradição da academia. Mexer para quê? Cada um,
porém, pense o que quiser. Só não deve ensinar erradamente.
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