domingo, 6 de outubro de 2013

Depressão




Muitos não sabem, mas já sofri depressão e não tomei Rivotril, princípio ativo clonazepam, mas tomei Fluxene, princípio ativo fluoxetina, sob prescrição médica, é claro. Não é a minha área de formação acadêmica, falo, pois, como leigo, embora um leigo fascinado pelo assunto. Salvo engano ou erro grosseiro do leigo aqui, os médicos e outros profissionais da saúde os chamam de ansiolíticos, antidepressivos e coisas que o valham, na linguagem técnica que eu tanto admiro (como admiro a linguagem jurídica e demais linguagens técnicas).

Isso é remédio de doido? Não, não é remédio de doido, é remédio para quem sofre de ansiedade, depressão, ou sei lá o quê. Aliás, como leigo, nem sei se existe remédio para doidice, loucura, ou o nome que se queira dar. Acho que não. Existe para sem-vergonhice, cachorrice e coisas parecidas, que, dependendo da idade do paciente, é taca com galho de goiabeira, bordoada com pedaço de jatobá serrado ou até  mesmo bala, chumbo grosso, besouro sem asa. Esses, contudo, já não se pode (digo, não se deve) administrar, conquanto os pacientes existam aos montes, porque é proibido. Foi-se há muito o tempo em que podia, acredite.

A proibição é dupla, tripla, sei lá. Não é demais lembrar que o corretivo com chumbo, seja grosso ou seja fino, só é legal quando a pena capital é institucionalizada e, no Brasil, a pena de morte foi abolida há mais de século. Também se tornou proibido, já faz algum tempo, serrar jatobá ou qualquer outra essência florestal . E podar, também, evidentemente. É proibido, sim, embora tudo isso continue sendo feito à luz do dia e revelia da lei, sob as barbas do Estado (nada que ver com o Partido dos Trabalhadores – PT), que vê, mas não se incomoda.

Bom, deixemos isso para lá (lá não sei onde). Afinal, que tem tudo isso com depressão? Fluxene? Rivotril? Nada e, ao mesmo tempo, muita coisa. Tem, sim, mas eu falei depressão apenas para explicar que, como tenho dito em crônicas passadas, já sofri a coisa, logo algum tempo depois da cardiopatia. Quero e prometo esquecer o assunto, mas precisava explicar o porquê da minha euforia com o término da monografia da pós-graduação. É porque, no passado recente, eu perdi a minha primeira pós-graduação, exatamente por causa da depressão.

Cursei – com brilhantismo, tirando a nota máxima em todas as disciplinas –, pós-graduação “lato sensu” (especialização, para quem não sabe) em Direito Constitucional, nos anos de 2009 e 2010, mas não recebi o certificado, porque, na parte final do curso, quando faltavam apenas a prova final e a monografia, caí em depressão e só me recuperei depois de, mais ou menos, um ano. Foi isso que aconteceu e é por isso que fiquei tão alegre agora.  Depressão é terrível, ninguém queira saber: quase morro de medo, só de pensar.

sábado, 5 de outubro de 2013

O título do livro e os semióforos




Andei atarefado e desanimado ultimamente: atarefado, porque estava pesquisando e escrevendo a monografia da pós-graduação lato sensu em Direito Administrativo; desanimado, porque – não sei por quê – sempre fui mesmo meio melancólico, o que às vezes fica mais acentuado por algum tempo. Daí o não ter cronicado nesses dias (sim, cronicado, gosto do verbo cronicar e o emprego quase sempre por mera e benigna provocação de quem não o conhece).

Como terminei hoje a monografia, voltarei agora às crônicas, porque, melancólico irresignado, uma das coisas que mais me dão prazer na vida é escrever. Vem daí o título De pé por causa da palavra: crônicas escolhidas, que dei a um dos meus livros de crônicas, pois, no ápice das minhas angústias, refugio-me humanamente falando no escrever. De pé por causa da palavra foi escrito, se não todo, quase todo, ao longo do período em que sofri acentuadamente a depressão provocada – se não provocada, pelo menos em muito aumentada – pela cardiopatia que me acompanha desde 2008.

Naqueles dias terríveis, escrever, mesmo sem abordar a depressão, era uma forma de me sentir vivo, de pé e atuante. Ainda é, claro. Interessante que, embora não soubesse disso, meu cardiologista, Dr. Cesar Antonio Rodriguez Montes, ao me receitar o antidepressivo que me tiraria da crise, recomendou-me buscar a ajuda de um psicólogo e, além disso, dedicar-me ainda mais às coisas de que mais gostasse, citando ele mesmo o ato de escrever crônicas. Mal sabia ele o porquê da escolha do título De pé por causa da palavra para um dos meus livros.

 

Hoje, pensando sobre o assunto, resolvi que Dia de Sol será o título de meu próximo livro de crônicas, que, embora não saiba quando virá a lume como livro, já está sendo escrito desde o início de 2013. Dia de sol foi uma crônica que, dia 17 de maio de 2013, escrevi sem muita pretensão, publiquei nos meus blogues e depois gostei muito. Continua fazendo sucesso entre os leitores e dará, por isso, título ao livro.


Pois bem. Agora, com mais tempo livre, voltarei às leituras literárias (Direito também é literatura, mas literatura com outra acepção, evidentemente), bem como à arte de cronicar, embora seja bem verdade que não se possa dizer “oh, que artista!”, mas isso é outra história. Já diz Leandro Konder: “Quem lê poesia, romances, peças de teatro, ensaios, crônicas, de fato está lendo a vida.”

Estou lendo Filosofia da linguagem, de Sylvain Auroux, tradução de Marcos Marcionilo, da Parábola Editorial, presente que a Câmelha me trouxe de Belém, na viagem mais recente. Aí vão duas frases das que já sublinhei com tinta vermelha: “O homem se define pela linguagem e pela razão, o que significa que, sem linguagem, não haveria racionalidade” e “A razão e a linguagem são, indissociavelmente, os atributos próprios da humanidade”. Elas dizem muito, mesmo retiradas do contexto.

E os semióforos?... Bom, pus semióforos aí no título, apenas de brincadeira, para chamar a atenção, conquanto os semióforos existam. São estudados na Filosofia e no Direito, por exemplo, e têm muito que ver com patrimônio cultural, que foi assunto da monografia recém-concluída. Poderão ser objeto de outra crônica.