Você já comeu Forxiga?
Não? Sorte sua, pois eu como diariamente. Quando não é Forxiga, é Edistride. Não
o faço, todavia, por querer, sou obrigado. Aí, você deve pensar lá com seus
botões: “Que estranho! O primeiro nome é bem feio; o segundo parece nome de
mulher.” E você tem razão, pois o primeiro nome é um tanto quanto estranho, e o
segundo parece um antropônimo feminino ou até mesmo comum de dois gêneros, mas Forxiga
(ou, como verá abaixo, Farxiga) e Edistride são nomes comerciais de um remédio
de farmácia. Penso, demais disso, que existem por aí afora pessoas de ambos os
sexos chamadas de Edistride. Isso, contudo, são outros quinhentos.
Forxiga, posto que para
mim se pareça com nome de sapo, é um dos nomes comerciais do fármaco dapagliflozina.
É coisa da turma do Tio Sam, pois, como informa a bula, o medicamento é fabricado
pelo laboratório AstraZeneca Pharmaceuticals, de Indiana, Estados Unidos. Além
disso, segundo aprendi lendo a Wikipédia,
Forxiga é o nome comercial dado no Brasil e na União Europeia ao fármaco que nos
Estados Unidos é chamado Farxiga. E, como eu já disse, outro nome comercial
dele, pelo menos no Brasil, é Edistride, o qual, repito, parece nome de gente,
principalmente de mulher. Confesso que gostaria até de ter uma amiga chamada
Edistride.
Gosto de bulas de
remédio. Como especialista em Direito Médico, observo o aspecto jurídico, o nome
do fármaco, os efeitos colaterais, e assim por diante. Como cronista, aprecio a
escrita em si, os aspectos gramaticais e literários. Rubem Fonseca dizia que bula
de remédio é um texto muito bem escrito. Ele, aliás, gostava de bulas e as
colecionava. Nem todas as pessoas, porém, são assim. Muitas delas ignoram a
bula de remédio, e outras tantas a detestam. Com efeito, ambas as categorias
não a leem. Logo, já não tem sentido dizer que este ou aquele indivíduo não lê
nem bula de remédio. Foi-se o tempo!
Pois bem, esclarecimento
semântico. É somente no efeito que comer é a mesma coisa que tomar, ingerir,
engolir, deglutir. Foi, pois, propositadamente que usei lá no início o verbo
comer. Não ignoro que, para o caso, o adequado e comumente usado é o verbo tomar,
pois se engole comprimido é com água. Eu, no entanto, posso dizer que como
comprimidos, pois, de tanto os tomar várias vezes por dia, há vários anos, quando
quero, engulo qualquer comprimido sem água, tal qual uma ave come um grão de
milho. Efeitos do costume. Antes disso, gastava quase um copo d’água por
comprimido.
É isso. Como disse, sou
obrigado a tomar Forxiga todos os dias. É que tomo por ordem médica (para ser
exato, prescrição do cardiologista). Nomes comerciais à parte, dapagliflozina, segundo
me disse o cardiologista, é um dos principais medicamentos para minha insuficiência
cardíaca. E, assim, mais um fármaco foi compulsoriamente incorporado à minha dieta
medicamentosa diária iniciada em setembro de 2008. É a vida. Vai um Forxiga ou
Edistride aí?...
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