O
Brasil, ainda triste e muito ferido pela tragédia de Santa Maria, vai
sepultando os seus mortos. A vida requer
continuação e tudo vai naturalmente se acomodando, mas a dor imensurável dessa flictena
com dimensão nacional, como não poderia deixar de ser, não se sabe exatamente
quando passará, é imprevisível. Demais disso, a ferida, trágica e descomunal
que atinge até a alma, não ficará para sempre aberta e haverá de fechar; a
cicatriz com as mesmas dimensões, contudo, será indelével, irremovível da
existência terrena de inúmeras pessoas – centenas, talvez milhares.
Não
haverá jamais, na dimensão física, o pleno consolo dos pais, parentes e amigos
de tantas vítimas. Para nós, os que cremos em uma dimensão espiritual, na vida
após a morte, resta a esperança na vida futura; para os que não creem, nem
isso. Sou cristão de confissão presbiteriana e creio na vida futura com Cristo,
mas respeito a fé dos que professam outros credos e até a falta de fé dos que não
creem. Não é disso, contudo, que eu quero falar. Cada um com sua fé, ou sua
falta de fé.
Li
na internet e assisti à programação
da Rede Globo, mais precisamente o Jornal Nacional, e fiquei, ainda mais
indignado, diante de alguns fatores que apontam – a meu ver, de forma
inequívoca – para a culpabilidade de pessoas diversas. Há, pelo que li na
imprensa e vi na tevê, fortes indícios de destruição de provas. Sumiram, pelo
menos até agora, as fitas de vídeo com a gravação do que ocorreu, bem como o
computador de armazenamento das imagens. Sumiu também, diz-se, a caixa
registradora. E por aí vão os indícios de destruição criminosa de provas.
Vê-se
que, logo no início do incêndio, os seguranças ficaram impedindo a saída das
pessoas, corroborando a afirmação das testemunhas de que exigiam – de forma
absurda, idiota e criminosa – o prévio pagamento da comanda. As portas foram
ou, no mínimo, continuaram fechadas por algum tempo, o suficiente para agravar
a situação. Com efeito, essa ação vil dos seguranças contribuiu, sobremaneira,
para o cruel e criminoso desfecho.
Puxa
vida!... Até quando a ganância, a omissão, o desprezo com a vida irão
prevalecer? Que dizer dos seguranças? Que fazer com eles? E com os donos do
negócio? E com as autoridades porventura omissas na fiscalização? Até onde vai
a culpabilidade de cada um, pela respectiva ação ou omissão? São perguntas e
mais perguntas que clamam por respostas e precisam ser respondidas.
A
vida de jovens esperançosos e promissores foi ceifada – brusca, inesperada e absurdamente
– pela incúria e desrespeito à pessoa sempre indissociáveis da ganância característica
do capitalismo tresloucado, em que o empresário e os sequazes a seu serviço não
se preocupam com vida de pessoas em face da possível perda de míseras quantias
do vil metal. É terrível isso!
É
preciso, portanto, que a apuração e a persecução criminal neste caso sejam levadas
a efeito com rigor e perfeição, para que a respectiva punição também seja
rigorosamente justa. Muito mais do que os demais órgãos, a Polícia Civil, porque
polícia judiciária do Estado-membro, e o Ministério Público, porque titular da
ação penal, devem agir exemplarmente, de forma a não permitir que, em havendo culpados,
fiquem impunes.
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