Já estamos
em janeiro. Passou dezembro, o mês do ano de que mais gosto. Dezembro, para
mim, é inebriante. Creio que o é para quase todas as outras pessoas também, é claro.
Janeiro também é bom, por causa da sensação do novo e da oportunidade sempre do
recomeçar, tentar fazer acertadamente o que saiu errado ou como não desejado,
fazer o que não se fez, e assim por diante.
Janeiro,
contudo, é bem diferente de dezembro, até porque este é o fim do ano e aquele,
o começo. Mas não é só por isso, evidentemente. É diferente por demais devido a
fatores diversos que não quero nem preciso enumerar. Todos sabem que são e por
que são diferentes, e, embora – quase sempre por mera provocação – eu goste
muito de dizer ou escrever o óbvio, às vezes fica chato.
Hoje são 7
de janeiro, Dia do Leitor. Mais do que por qualquer outra razão, hoje não quero
nem posso ser chato, conquanto desconfie seriamente de que já esteja sendo.
Desculpe-me as baboseiras, leitor! Eu também sou leitor e já li muito hoje,
assuntos mais diversos do que você pode imaginar.
Você é
leitor ou leitora, eu sou leitor, nós somos leitores. Hoje, portanto, é o nosso
dia, mais do que são os outros dias. Por quê? Sei lá! Porque, um dia, assim
se decidiu que fosse e ficou sendo. Faço questão mesmo de ignorar. Para mim, não
importa saber o porquê nem por quê. Já me cansei de andar querendo saber por
que razão isso ou aquilo são o que são e como são. Quase tudo na vida é
convenção. Isso me basta.
Não poderia
deixar de escrever algo hoje, por causa do hábito e, principalmente, pela necessidade
do registro da efeméride. Sim, o Dia do Leitor, para mim, é uma efeméride e
tenho muito gosto no seu registro, porque, antes de qualquer outra razão, é o
meu dia, o nosso dia, o que de per si seria suficientemente motivo de júbilo.
Apesar disso, apesar de tudo, escrevi muito e nada disse.
Mas, acredite,
leitor, fiz tudo isso propositadamente.
É que, dentre as minhas leituras de hoje, uma interessantíssima e muito
agradável (pois, como sabemos, há leituras que são interessantíssimas, mas não
são agradáveis) foi a crônica “Chavões”, de Graciliano Ramos, publicada na
revista “Metáfora”, edição n.º 15, que recebi hoje.
Na crônica
“Chavões”, Graciliano diz que “lemos com imenso prazer os escritores que não
dizem nada”. E sabe como é que – depois de defender o uso de chavões e
lugares-comuns – ele, muito espirituosamente, a encerra? Escrevendo exatamente
assim: “Apresento uma sugestão aos homens inteligentes: deixem de escrever e
entreguem a pena aos imbecis.”
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