Manhã de 21 de dezembro de 2012 –
sexta-feira, um dia comum tal quais o são os demais. Na Câmara Municipal de
Marabá, porém, as circunstâncias dão ao momento características singulares, que
sensibilizam, inquietam e forçam reflexões. A sexta-feira por si só, como último
dia de expediente a anteceder o Natal, faz-se portadora de emoção e sentimentos
especiais. E, mais do que isso, como se não bastara, o estertor de uma
legislatura para o início da outra faz aflorar insegurança e apreensão nos
servidores sem vínculo funcional efetivo com a Casa, os ocupantes de cargo em
comissão. Não é só isso, mas chega, basta!
É terrível isso! É o medo personificado em
compasso de espera, a comovente angústia do servidor diante da insegurança que apavora
e quase mata. É muito cruel a incerteza. Há, por outro lado, a alegria e
esperança de outros, por motivos diversos. É a vida como sempre: enquanto uns
cantam, outros choram. Advogado que sou, fui consultado, desde o primeiro
momento, por vários colegas, todos eles com dúvidas sobre a situação funcional
em face da mudança de legislatura. Orientei e, no que pude, tranquilizei a
todos.
Conheço – já de muitos outros carnavais – essa
aflição do servidor comissionado, sempre à mercê da variação humorística de
quem teve o poder para sua nomeação, mas também o tem para a exoneração, a
qualquer momento e ao bel-prazer. A angústia maior dos servidores comissionados
é a natureza jurídica de demissíveis “ad nutum”. Como disse certa vez, com a
ironia e a sapiência que lhe são peculiares, o então senador da República e
ministro da Justiça Jarbas Passarinho, são nomeados em português e demitidos em
latim.
Depois disso, a conversa um pouquinho mais
demorada com a colega Jane da Silva Palmeira, que faz referência especial à
crônica “Caçar emboança”, publicada na edição 27 (dezembro de 2012 a janeiro de
2013) da revista “Foco Carajás”, e fala do prazer de ler as minhas crônicas. Foi
uma conversa muita boa, revigorante para mim, embora tenha sido tão rápida,
porque estávamos no corre-corre do expediente. É muito bom isso e tem valor
inestimável a manifestação afetuosa do leitor!
Lembrei-me da sábia entrevista que o escritor
haitiano, há 36 anos exilado no Canadá, Dany Laferrière concedeu à revista
“Metáfora”, edição 14 (novembro de 2012). Laferrière afirma que a literatura é
uma relação de amor entre as pessoas e lembra, por exemplo, o tempo de criança,
em que ficava sentado à entrada da casa, vendo a avó dar café aos transeuntes.
Segundo ele, ela enchia a garrafa térmica de café e o oferecia às pessoas que
passavam, simplesmente para poder conversar com elas.
À leitora que disse ter ficado uma hora e
meia na fila de autógrafos, para poder falar com ele, ele consolou dizendo que
esperara 25 anos, desde que começara fazer literatura, para que aquele momento
de encontro entre os dois pudesse acontecer. O cara é nota 10! Só mais uma
dele, para encerrar: “A literatura não se alimenta de palavras, mas de sonhos.
Às vezes, a gente faz romances com aquilo que contamos para os amigos.”
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