Sempre me preocupei com a brevidade da vida, embora calado o fizesse. Nascemos, crescemos, nos reproduzimos e morremos. Isso quando não ocorre um acidente de percurso, visto que, não muito raramente, esse iter do ser humano, como de todo ser vivo, sofre solução de continuidade antes do tempo natural. A vida é curta, com ou sem acidente de percurso: mal nascemos já estamos morrendo. E, porque a vida é curta, é preciso que nos dediquemos a fazer o bem, a viver bem cada momento, a fazer feliz o próximo, a, pelo menos, não prejudicar deliberadamente os outros. Já dizia Machado de Assis: “O melhor modo de viver em paz é nutrir o amor-próprio dos outros com pedaços do nosso.”
É fato. A vida é curta, mas é bela, embora também seja dura, a depender da perspectiva. O começo pode ser o fim, como o fim pode ser o começo, dependendo de onde se olha. Sei, é claro, que isso é óbvio, mas não é tão óbvio assim. É? Que há de errado em dizer ou escrever o óbvio? Nunca me preocupei com isso, embora faça parecer o contrário. Não tenho a preocupação e, menos ainda, a pretensão de fazer escola. Dizer ou escrever o óbvio deve ser mais proveitoso do que dizer ou escrever o obscuro, o indecifrável, o incompreensível ou enigmático. Quero escrever, falar, viver, só isso.
Vivo doente, uma doença cardíaca, que é crônica e, assim, pelo menos aos olhos da medicina de hodierna, tenho de conviver com ela. Isso, ora me incomoda, me entristece, me desilude, me assombra; ora, não. Melhor assim, claro. E, como se não bastara, hoje tomei conhecimento de algo não muito auspicioso: uma retinografia digital levanta indícios de glaucoma. Sou leigo no assunto (só entendo de direito; não de olho direito, mas da ciência jurídica, o direito com “d” maiúsculo, que também pode, principalmente agora depois do Acordo Ortográfico de 1990, ser escrito com “d” minúsculo), mas sei, como sabe qualquer pessoa, que glaucoma não é coisa boa e pode até levar à cegueira total, conforme o caso, ou, como presumo e espero, o descaso. Logo, de auspicioso aí, em vindo a se confirmar a suspeita, apenas o diagnóstico precoce.
Fiquei preocupado, claro. Logo eu, que sou apaixonado pelo rio, pela praça, pelas árvores, pelos animais, pela natureza, que não consigo ficar sem ler, sem escrever. Meu Deus! Comentei isso com minha mulher, tão logo voltei para casa. Não tenho preconceito com a cegueira, tenho mesmo é medo. Será que alguém não tem? Quero dizer, contudo, que não estou escrevendo isso com tristeza, estou simplesmente aproveitando para reiterar minha paixão pela vida, pelas coisas boas e dizer da minha confiança em qualquer tratamento levado a efeito com disciplina.
Mas não é só isso. A vida continua, até após a morte, ainda que de morte não esteja tratando. Aliás, eu e tantos outros cremos nisso. Há, entretanto, os que não creem, uns expressando sua descrença e outros, não. É fato. Pensemos, contudo, séria e desapaixonadamente: se não existir vida após a morte, como tanto esperamos existir, tudo fica mais sem sentido ainda. “Os céus manifestam a glória de Deus e o firmamento anuncia a obra das suas mãos”, diz a Bíblia (Salmos 19.1).
“A vida continua, somos nós que não prosseguimos”, disse Valfredo Melo e Souza, na crônica “Vazio existencial”, publicada no jornal maçônico Liberdade e União, de Goiânia (GO), edição de maio-junho de 2009. É verdade, embora não nos acostumemos com a ideia e vivamos mesmo sem nos preocupar com isso. De fato, a vida continua, mas nós passamos. As pessoas passam e as instituições ficam, mas as instituições também passam; somente a vida continua. É preciso viver cada momento como se ele fosse o último, até porque um deles, que não sabemos qual é, o será. E aí... babau, cachimbo de pau!
terça-feira, 7 de dezembro de 2010
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