Já sei: muitos, ao lerem o título, estão pensando erradamente. E – o que é pior – estão pensando que se trata de uma frase pornográfica ou, no mínimo, de mau gosto. Puro engano até do corretor ortográfico do computador, que considerou parte dela como português. A frase está toda em latim e não apenas uma de suas palavras, como faz parecer à leitura apressada – com absoluta convicção o digo – dos mais jejunos na língua em que pontificou Cícero, o inolvidável tribuno romano, embora eu também não saiba latim.
Não sou nenhum depravado na acepção comum conhecida e empregada pelos pudibundos de plantão. Apenas gosto de fazer brincadeiras nas crônicas que, agradando a uns e desagradando a outros, escrevo por escrever. Padeço, sim, da depravação total, como também dela padecem todos os demais seres humanos, mas na acepção teológico-calvinista, o que é outra história e assunto para outra crônica. Ao dizer ou escrever “puto me auditum”, o que calha muito bem após qualquer comunicação solene ou advertência, estou simplesmente me expressando em bom latim, língua a que tanto admiro, conquanto nela não seja versado.
“Puto me auditum” é algo sério, mas dito ou escrito sempre à guisa de brincadeira, para sacudir a poluição da mente dos partidários daquela aluna da Escolinha do Professor Raimundo, a donzela que “só pensa naquilo” e, rubicunda, julga os demais a partir de si mesma. Ela é depravada e, julgando a partir daí, pensa que todos os demais também o são. Faço com essa frase – como já disse – uma brincadeira que só chama a atenção em latim, por causa da maldade latente na cabeça das pessoas. Dita em português, tem o mesmo sentido, mas não tem esse efeito.
“Puto me auditum” é bom latim e quer dizer em bom português “Julgo-me ouvido”, “Penso que fui escutado”, “Julgo que fui claro”, e assim por diante. Não é, portanto, nenhum dito pornográfico nem de mau gosto. É uma brincadeira, com que nesta crônica presto homenagem ao ilustre professor de português e de latim, advogado e gramático Napoleão Mendes de Almeida, de quem aprendi a frase. Doutor Napoleão, há anos infelizmente falecido, foi meu professor; fui aluno de seu curso de português ministrado por correspondência.
Demais disso, a crônica – que escrevi ao me lembrar de uma brincadeira do ambiente de trabalho – vem lembrar a nós todos que não devemos julgar mal os outros, açodadamente, atabalhoadamente. É bom demais conversar descontraidamente e brincar com as pessoas de quem se gosta, numa relação agradável de respeito mútuo. Faz muito bem! “Puto me auditum.”
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