sábado, 11 de dezembro de 2010

Atos, fatos, leituras


Sebastião Ferreira Neto, o Ferreirinha, é meu conhecido desde o dia 1.º de abril de 1998, quando, nomeado e empossado, entrei no exercício do cargo de Técnico Legislativo, do quadro de pessoal permanente da Câmara Municipal de Marabá, Estado do Pará. Ferreirinha era vereador e foi presidente da Casa. Trabalhamos muito tempo juntos, principalmente nas comissões temáticas permanentes, antes e depois da minha atuação como procurador jurídico-legislativo.

Cerca de 10 para 11 horas de 10 de dezembro de 2010. Na rua (mais precisamente, dentro de um táxi-lotação), ouço, pelo rádio, que Ferreirinha foi preso pela Polícia Federal. Prisão provisória decretada pela juíza federal Hind Ghassan Kayath, de Belém. Entrevista do advogado de defesa, Dr. Antônio Quaresma. Mais tarde, já na Câmara, novamente pelo rádio, ouço entrevista do delegado de Polícia Federal, Antônio Carlos Beaubraun Júnior, que cumpriu o mandado de prisão. Vou à internet e leio no Quardouro, blogue do Ademir Braz, que Ferreirinha já está no Centro de Recuperação Agrícola “Mariano Antunes” (Crama).

Inquieto-me. Não me omito e, não me contendo, deixo um comentário no blogue. Ressalvo, por dever da formação jurídica, que desconheço o processo, mas não deixo escapar a oportunidade de expressar minha crença na inocência do acusado e, de público, hipotecar a ele e sua família minha solidariedade. Bem ao depois, já quase às 18 horas, encontro um colega blogueiro no Banco do Brasil, que faz alusão ao meu comentário do Quaradouro. Em seguida, na banca de revista, mais alusões à prisão. Em ambos os lugares, no banco e na banca, reafirmo minha defesa intransigente do princípio de presunção da inocência. Não gosto de esconder o que penso em situações como esta.

À noite, em casa, leitura do Alcorão, para variar. Falam-me alto os versículos 42 a 44 da sura 10: “E entre eles, há os que te escutam. Mas podes fazer ouvir os surdos? E há os que olham para ti. Mas podes guiar os cegos? Deus não oprime os homens: eles se oprimem a si mesmos.” Texto fora do contexto, lógico. Mas... Lembro-me de Ferreirinha e da situação em que, não sei, injusta ou justamente se encontra.

Depois, leitura de crônicas (Diogo Mainardi, Iris Abravanel, Carlos Heitor Cony, José Sarney, Rubem Braga). A crônica – sempre gosto de dizer – é meu gênero e passatempo preferido. Leio crônicas, se não todos, quase todos os dias, no site da Academia Brasileira de Letras e nos muitos livros do gênero que possuo. Escrever crônica é narrar jornalisticamente o que se vivenciou de forma literária. É isso que diz o jornalista Caio Mario Britto, no prefácio do livro Recados Disfarçados, de Iris Abravanel. Leitura também de Direito Penal e Processual Penal. Leitura da Bíblia, as bem-aventuranças (Mateus 5.1-11).

Não pude, contudo, deixar de escrever alguma coisa, daí esta crônica. As crônicas “Estranhas Sensações” e “Gostinho de Aventura”, da Iris Abravanel, chamaram-me bastante a atenção pela simplicidade, beleza e profundidade. E do muito que sublinhei com a caneta vermelha na leitura do Mainardi, estas palavras dispensam comentários: “É muito mais difícil não escrever do que escrever. [...] Duro mesmo é ficar deitado no sofá, sem escrever nada. Requer uma aceitação filosófica da própria transitoriedade.”

Por último, porque mais importante. Acredito, até prova em contrário, na inocência de Ferreirinha. Concluo com Carlos Heitor Cony: “A natureza é arrogante em sua fecundidade, os homens é que são estéreis em sua finitude.”   

Nenhum comentário: