Não sei por que me deu vontade de escrever isto. Sinceramente, não sei, mas o faço. Talvez seja porque não me acode no momento outro assunto, outra ideia para uma crônica. Não, não é. Não é isso, porque ideias e assuntos até os tenho demais. Talvez seja esse o problema. Talvez, mas não é certeza. E aqui vem à memória o que escreveram sobre certeza Pasquale Cipro Neto e Lygia Fagundes Telles, que, aproveitando o ensejo, compartilho com meu leitor, por julgar muito interessante. “Ouça, leitor: tenho poucas certezas nesta incerta vida, tão poucas que poderia enumerá-las nesta breve linha” (Lygia Fagundes Telles, “Então, adeus!”). “Em tudo na vida, a certeza quase sempre não passa de mero engano” (Pasquale Cipro Neto, “Vezeiro, sicrano, supetão”). Caramba!
Algum leitor, a esta altura, talvez esteja a pensar que pretendo dizer ou discutir os conceitos de certeza e de verdade ou até mesmo o de preconceito. Talvez! Enganou-se, todavia, quem o fez. Não os quero conceituar e tampouco discutir-lhes os conceitos existentes. Também não quero, por incrível que pareça, ser amargo. Eu só queria registrar aqui e agora, hic et nunc, o ter muitas incertezas nesta vida incerta, como disse a imortal Lygia Fagundes Telles. Daí usar tanto neste texto, deliberadamente, propositadamente, o advérbio talvez. Eu tenho dúvidas, medos e angústias. Quem não os tem?
Pretendia, demais disso (e ainda não desisti do intento), concitar o leitor a duvidar de certas verdades e certeza absolutas que são apresentadas nos mais variados aspectos da existência e do agir humano. The benefit of doubt, o benefício da dúvida. Não no sentido juridicamente empregado, do in dubio, pro reo, mas filosoficamente. A dúvida, quando sincera, é benéfica e produz bons resultados. O mundo é movido por dúvidas e perguntas, que levam à investigação, embora não necessariamente à verdade ou à certeza absoluta. A Bíblia, para quem nela crê, dá o exemplo da dúvida sincera e benéfica de Tomé.
Duvide, meu leitor, questione, investigue, perquira, pergunte e avalie a resposta! Mas, antes e acima de tudo, saiba ouvir. Seja simpático para com a verdade, a crença e a justiça do outro, pois simpatia, longe de significar concordância, significa negação da discordância cega ou obstinada. Gosto muito, por isso, da “Canção ecumênica”, de autoria do padre Zezinho, interpretada pela cantora Faride, que nos manda “respeitar os ateus”.
Não sou ateu nem cético nem coisa que o valha, mas, há muito, ando a desconfiar e mesmo a desgostar da certeza de muitos. Não raro, verdades, certezas e preconceitos se têm confundido nas sendas tenebrosas da mente obscurecida de quem se julga o suprassumo da sumidade. Como Sócrates, cada dia mais, só sei que nada sei, e tenho medo, muito medo, das certezas e verdades dos que tudo fazem para negar ou fazer calar a certeza ou verdade dos outros. Tenho medo, muito medo, dos donos da verdade.
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