terça-feira, 19 de maio de 2009

SOLDADINHO DO PIAUÍ

“Hoje resolvi fazer uma ode/ Minha infância.../ Cresci junto com os bodes!”. Ode (que vem do grego, através do latim, e quer dizer canto) é uma composição poética, um poema lírico. E esses versos seriam o início do poema que, no gaiato dizer de Luciano Dias Lopes, seria escrito pelo Euvecio Batista Veras, nosso colega do curso de Direito da Universidade Federal do Pará, Campus de Marabá, turma de 1996. Seria, segundo a gozação do Luciano, a canção do exílio euveciana. Seria a canção do exílio do Soldadinho do Piauí, tal qual a “Canção do exílio”, de Gonçalves Dias.

“Soldadinho do Piauí” era como, nas horas de brincadeira, hoje lembradas com enorme saudade, nós chamávamos o Euvecio. “Soldadinho”, porque, segundo ele nos dizia, não gostava de militares. Mas, segundo ele próprio nos contara, quando adolescente, desejara ingressar na Marinha de Guerra e depois desistira, criando (sabe-se lá por que), ojeriza a tudo que é milico. E “do Piauí”, porque, nascido e criado em Parnaíba, Estado do Piauí (a cidade natal do grande Evandro Lins e Silva, ex-ministro do Supremo Tribunal Federal e considerado o maior advogado criminalista do século XX), Euvecio criticava muito o Pará. Aliás, também nascido em Parnaíba e parente consanguíneo de Euvecio, além de conterrâneo, foi o escritor Humberto de Campos Veras, imortal da Academia Brasileira de Letras, que lá plantou ainda criança e, já adulto cronista, fez imortalizar o famoso cajueiro a que fiz alusão, já faz alguns anos, na crônica “Amor das árvores”.

Hoje sou advogado. Advogados também são Luciano Dias Lopes, Sílvia Andreza, Vlaviana Brandão, Itamar Caixeta, Ricardo Rosa, Cláudia Chini, Valteir, Jair, Daniela e outros de cujo nome não me lembro no momento. Euvecio Batista Veras, Josias Pereira Falcão e Juliano Juks Costa Souza são servidores da Justiça Federal. Euvecio, no Amazonas, bem próximo da Bolívia; Josias, em Altamira; Juliano, em Marabá. Euvecio, Juliano e Luciano sempre foram mais chegados a mim do que os demais colegas. Euvecio, por sinal, mais do que todos eles, amizade que ainda perdura e só tem se fortalecido ao longo dos anos.

O que me fez escrever esta crônica foi uma audiência em que, dia 12 de maio corrente, eu e Luciano atuamos defendo interesses diversos, no Juizado Especial Criminal (Jecrim) de Marabá. Aí, no processo, pela primeira vez, éramos contrários um ao outro, aliás, defendíamos os interesses de partes contrárias entre si: eu era seu ex adversus e vice-versa. Mas nem houve embate algum, as partes transigiram e fizeram o acordo de pôr fim à lide, que foi homologado pelo magistrado. Melhor assim, para os advogados e para as partes, é óbvio.

Mas não foi só por isso. Não foi somente pelo encontro dos amigos advogados e colegas de universidade no mesmo processo. Foi também porque reli há pouco a mensagem que enviou o Euvecio, à guisa de comentário referente à minha crônica “O cardioapata”, postado por ele em meu blog, no dia 24 de setembro de 2008, com que, emocionado como em todas as vezes que a leio, encerro esta crônica.

Escreve ele, pela internet, lá do fim do Amazonas: “Boa noite, Saudades. Ontem pensei em sua família, principalmente em seus filhos e hoje falei com você, meu grande amigo, e ao ler estas palavras pude sentir um pouco de sua angústia. Não sei o que falar ou escrever, mas sei de suas vitórias ao longo desta vida, espero e acredito que esta seja mais uma delas. Quantas vezes na vida eu disse que nunca escreveria a você, mas hoje não poderia deixar de escrever esta mensagem. A saudade de você é imensa. Que o Deus de Samuel esteja contigo! Seu Amigo Euvecio.

2 comentários:

Blog da Ana Maria disse...

Quero dizer que, mais uma vez gostei desse texto. Amei saber a questão do soldadinho do Piauí. O Euvécio foi um ótimo professor. espero que ele esteja bem lá no Amazonas.... Abraços e parabéns, mais uma vez, pela eficiência da escrita!!!!!

Dr. Valdinar Monteiro de Souza disse...

Muito obrigado, Ana Maria, pelo seu comentário. Saber que você lê meus artigos e crônicas é mais do que um incentivo para continuar escrevendo, não obstante aumente, sobremaneira, a responsabilidade.
Abraço.