Marabá, linda e gostosamente, molhada.
Chovia grosso, embora calmamente, o que, aliás, durou mais ou menos uma hora (mais
precisamente das 17h50 às 19 horas deste domingo, 24 de março de 2013). Estava
em casa, juntamente com a Câmelha, minha mulher, e nossos dois filhos, Daniel e
Samuel. Fecháramos portas e janelas, como se costuma fazer quando chove.
Depois de uns dez minutos de chuva,
abri a porta e vi como chovia forte. Não resisti. Vesti um calção de banho e
caí na chuva, convidando em seguida as crianças. Convidei também a Câmelha, mas
ela não foi, porque não podia molhar os cabelos (coisas de mulher, que faço
questão de entender e, claro, valorizar). Chuva grossa, porém, calma, embora
relampejasse e desse, ao longe, alguns trovões.
Protegidos pelo muro e portões
fechados, ficamos a correr, eu e os meninos, sob a biqueira, na lateral direita
da casa, indo e voltando. Foi a primeira vez que tomei banho de chuva com eles
e fiquei emocionado, embora sentisse a falta do Douglas, meu primogênito, que
mora em Belém. Voltei, repentina e involuntariamente, aos anos dourados da minha
infância e adolescência, quando brincava na chuva com meus irmãos mais novos
que eu: José, Raimundo e Valdener.
É verdade, como diz José Sarney: “Os
anos corrompem o sonho.” Para muitos, eu sei, isso é uma descabida tolice, mas para
mim não é. Isso basta. Não tenho palavras para expressar minha alegria, talvez
eu seja mesmo um tolo. Tudo bem, pode até ser. Prefiro, contudo, me ver como um
seduzido pelas belezas da vida. Fica melhor assim e, claro, mais interessante.
Não quero que meus filhos sejam homens
insensíveis à beleza das coisas, sempre à procura de prodígios e complexidades.
A vida fica mais bonita, mais leve e muito prazerosa quando se procura, sem
complicações desnecessárias, apenas viver. Pena que, talvez, eu tenha descoberto
isso tão tardiamente! A despeito do meu jeito de ver o mundo, vejo que ainda
vivi muito seriamente, responsavelmente, preocupadamente.
Jesus Cristo, que não tinha onde
reclinar a cabeça, mandava observar as aves do céu e os lírios do campo. É
muito bom tomar banho na chuva, olhar o rio, andar descalço (com atenção, para
não pisar em cacos de vidro, claro) e fazer muitas outras coisas mais. Viva a
chuva! “Quem me dera que eu fosse os rios que correm / E que as lavadeiras
estivessem à minha beira...” (Fernando Pessoa).
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