“Os
baobás, antes de crescerem, são pequenos”, deixou imortalizado, no seu clássico
“O pequeno príncipe”, Antoine de Saint-Exupéry. Puxa vida, isso é tão óbvio que
agride a sensibilidade dos que se ofendem com quase tudo na vida,
inclusivamente com o dizer ou escrever o óbvio. Para muitos, o óbvio não pode
ser dito e, muito menos, escrito. O que tais pessoas ignoram é que nem tudo que
parece ser óbvio realmente o é.
É
verdade. Ainda bem que, para deleite e felicidade de quem pensa diferentemente,
Exupéry, ao escrever essa obviedade aí e tantas outras que ele escreveu, não se
preocupou com os que são contrários ao óbvio. “As aparências enganam”, diz a
sabedoria popular. E Jesus Cristo, ensinando à multidão, alertou severamente: “Não
julgueis segundo a aparência, mas julgai segundo a reta justiça” (Jo 7.24).
Gosto
das coisas simples, do óbvio, do prosaico, comum ou trivial, até porque nada é tão
simples como se parece à análise apressada dos afoitos, ávidos por mistérios e complexidades.
É por isso que gosto particularmente de uma frase de Rubem Alves, a qual muito
me diz nesse sentido. Teólogo e filósofo, cronista e poeta, psicanalista, além
de professor e escritor, Rubem Alves diz que “é preciso estar meio distraído
para ver a verdade”.
Quais
as razões por que “O pequeno príncipe”, de Exupéry, embora publicado em 1943, continua
a nos encantar em cada releitura, nos dias de hoje, a despeito de tantos
avanços da ciência e da tecnologia? Ah, sei lá! Existem tantas razões, eu sei.
Não tenho dúvida, porém, de que uma delas com relevo e muito realce entre as
demais é que a essência não é exterior. Ninguém se engane, “O pequeno príncipe”
não é um livro para crianças nem adolescentes, é para pessoas adultas e
apaixonadas pela vida.
Exupéry
escreveu tantas afirmações lindas e sábias no livro “O pequeno príncipe”,
embora elas escapem à visão superficial de muitos, porque parecem óbvias
demais. O problema de quem não as vê é que, como ele diz linda e poeticamente a
certa altura, “só se vê com o coração. O essencial é invisível aos olhos”. E,
mais à frente, repete que o mais importante é invisível.
É
lógico que o ser humano deve ter uma postura crítica em relação a tudo que o
rodeia, desenvolver e utilizar sua inteligência e capacidade de modificar o
meio, para seu bem-estar físico, intelectual e cultural, sem acomodação nem
precipitação. Isso, contudo, nada tem que ver com ignorar o que parece óbvio.
Há muita beleza e sabedoria na aparente simplicidade das coisas, porque o mais
importante é invisível. O simples não é tão simples como parece. É verdade, eu
creio nisso.
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