segunda-feira, 13 de agosto de 2012

As ingestões diárias de medicamento e os outros


Alguns malucos – do meu convívio, ou de encontros aleatórios impostos pela vida –, às vezes, ficam a duvidar quando digo que tomo remédios oito, nove vezes por dia (já cheguei a tomar, no início do tratamento cardiológico, onze vezes diariamente). Vejo, não raro, a reação duvidosa, quando não de perplexidade, na cara deles. E, às vezes, isso me irrita profundamente. São nove vezes, sim: duas de carvedilol, uma de Aradois, três de ômega-3, uma de Diurisa, uma de Lipless, uma de digoxina. Haja dinheiro, disciplina e paciência, para tomar tantos remédios diariamente por tempo indeterminado!

Fico aborrecido mesmo e preciso contar mentalmente até dez e me controlar, para não dar uns safanões ou mesmo esganar um desses idiotas por aí. Tenho, a muito custo, conseguido me controlar até hoje, mas – não sei, não – corre o risco de, a qualquer a hora dessas, eu esganar um babaca desses que a vida faz atravessar o meu caminho.

Haja santa paciência, caramba! Eu não minto nem me automedico e, o mais importante que se deve observar, não sou doente do coração por querer. Tomo remédios porque, no acompanhamento cardiológico permanente que faço, o cardiologista os prescreve. Evidentemente, entre a orientação do meu cardiologista e a dos babacas que me cercam e ousam dar opinião sobre o que desconhecem, prefiro a dele. Ora, se o cardiologista, que estudou, não souber o que está fazendo, um maluco, que nunca estudou, vai saber?

Minha cardiopatia é idiopática, não teve a causa estabelecida. O cardiologista disse que pode ter sido um vírus ou uma bactéria que, caindo na corrente sanguínea, foi para o coração e causou todo o estrago. Pois bem, seu moço. Um dia desses, um abelhudo que se julga sabido (é formado em Matemática, mas é leigo em Medicina) teve a ousadia de me dizer que, para ele, doença do coração é decorrente de má alimentação. Fiquei muito zangado, claro, e respondi a ele que essa é a visão muito simplória de um leigo, mas não é a verdade.

Já vi e ouvi muitos disparates iguais a esse, mas vou contar somente mais um deles. Um dia, ainda em 2008, logo que tive alta do hospital, uma colega linguaruda da Câmara Municipal de Marabá, achegou-se de mim e – de forma a sugerir que eu ficara doente pelo fato de ser, às vezes, irritadiço – me disse: “É!... Agora, se quiser viver, tem que ficar mais calmo, não é?” Respondi, à altura, na hora: “Ah, é!... Não posso mais ficar zangado. Se tiver que matar alguém, vou matar. Mas, tenho que matar sem ter raiva, sem ficar zangado!” Ela meteu a viola no saco e se foi. Ah, vá perturbar outro da sua laia, sua doida!

Apesar de tudo isso, meu médico me disse que já saí do grupo de risco de morte súbita. Hoje meu risco em relação à morte súbita é o mesmo de qualquer outra pessoa. Acredito. Mas, é claro, se eu morrer subitamente a qualquer hora dessas, os babacas de plantão vão dizer que morri por ser zangado demais. Vão, sim, com certeza! Ah, pouco se me dá. Que se danem esses malucos.

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