Alguns malucos – do meu convívio, ou de
encontros aleatórios impostos pela vida –, às vezes, ficam a duvidar quando
digo que tomo remédios oito, nove vezes por dia (já cheguei a tomar, no início
do tratamento cardiológico, onze vezes diariamente). Vejo, não raro, a reação
duvidosa, quando não de perplexidade, na cara deles. E, às vezes, isso me
irrita profundamente. São nove vezes, sim: duas de carvedilol, uma de Aradois,
três de ômega-3, uma de Diurisa, uma de Lipless, uma de digoxina. Haja
dinheiro, disciplina e paciência, para tomar tantos remédios diariamente por
tempo indeterminado!
Fico aborrecido mesmo e preciso contar
mentalmente até dez e me controlar, para não dar uns safanões ou mesmo esganar
um desses idiotas por aí. Tenho, a muito custo, conseguido me controlar até
hoje, mas – não sei, não – corre o risco de, a qualquer a hora dessas, eu
esganar um babaca desses que a vida faz atravessar o meu caminho.
Haja santa paciência, caramba! Eu não minto
nem me automedico e, o mais importante que se deve observar, não sou doente do
coração por querer. Tomo remédios porque, no acompanhamento cardiológico
permanente que faço, o cardiologista os prescreve. Evidentemente, entre a
orientação do meu cardiologista e a dos babacas que me cercam e ousam dar opinião
sobre o que desconhecem, prefiro a dele. Ora, se o cardiologista, que estudou,
não souber o que está fazendo, um maluco, que nunca estudou, vai saber?
Minha cardiopatia é idiopática, não teve a
causa estabelecida. O cardiologista disse que pode ter sido um vírus ou uma
bactéria que, caindo na corrente sanguínea, foi para o coração e causou todo o
estrago. Pois bem, seu moço. Um dia desses, um abelhudo que se julga sabido (é
formado em Matemática, mas é leigo em Medicina) teve a ousadia de me dizer que,
para ele, doença do coração é decorrente de má alimentação. Fiquei muito
zangado, claro, e respondi a ele que essa é a visão muito simplória de um leigo,
mas não é a verdade.
Já vi e ouvi muitos disparates iguais a esse,
mas vou contar somente mais um deles. Um dia, ainda em 2008, logo que tive alta
do hospital, uma colega linguaruda da Câmara Municipal de Marabá, achegou-se de
mim e – de forma a sugerir que eu ficara doente pelo fato de ser, às vezes, irritadiço
– me disse: “É!... Agora, se quiser viver, tem que ficar mais calmo, não é?” Respondi,
à altura, na hora: “Ah, é!... Não posso mais ficar zangado. Se tiver que matar
alguém, vou matar. Mas, tenho que matar sem ter raiva, sem ficar zangado!” Ela
meteu a viola no saco e se foi. Ah, vá perturbar outro da sua laia, sua doida!
Apesar de tudo isso, meu médico me disse que
já saí do grupo de risco de morte súbita. Hoje meu risco em relação à morte
súbita é o mesmo de qualquer outra pessoa. Acredito. Mas, é claro, se eu
morrer subitamente a qualquer hora dessas, os babacas de plantão vão dizer que
morri por ser zangado demais. Vão, sim, com certeza! Ah, pouco se me dá. Que se
danem esses malucos.
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