Cheguei: moro aqui, estou em casa. Essa é,
para mim – como creio ser para todas as demais pessoas – a etapa mais aprazível
de toda e qualquer viagem. É a alegria do retorno, que se faz acompanhar pela segurança
do estar em casa. Nada é melhor do que isso, claro: nem mesmo as descobertas e
emoções da melhor viagem do mundo.
Pois bem. Fui a Imperatriz, Estado do
Maranhão, sábado, dia 14, anteontem e voltei hoje, dia 16, desembarcando
exatamente às 14h28min, no Terminal Rodoviário “Miguel Pernambuco”. Viagem
triste para mim, porque fui participar do velório e sepultamento de Valdeíra
Guimarães, filha de Francisco Rodrigues Tavares, meu amigo e mais que um irmão.
Valdeíra era uma jovem senhora, que morou e
trabalhou em Portugal durante uns sete anos e agora resolvera regressar,
voltando para o Brasil. Não teve, contudo, o prazer de dizer o “cheguei: moro
aqui, estou em casa”, porque faleceu lá. Adoeceu em dezembro de 2011, uma
semana antes de voltar e, depois de aproximadamente sete meses em coma, faleceu
em Caldas da Rainha. Deixou marido e filhos com o legado da tristeza que já não
pode ser consolada.
Valdeíra e seu pai almoçaram em minha casa,
em julho de 2005, dois dias antes da ida dela a Portugal. E, embora eu nunca
mais a visse com vida, voltou ao Brasil, depois disso, algumas vezes, sempre
alegre, cheia de vida e de muita esperança. Não teve, todavia, o prazer do
regresso definitivo com vida para junto dos seus: voltou morta, encerrando
tristemente sua existência e deixando-nos a sofrer por sua ida de nosso meio.
O féretro chegou a Imperatriz seis dias após
o óbito. Começamos o velório exatamente às 2h35min, já na madrugada de domingo,
dia 15. Choramos a dor inconsolável de seu desenlace, porque inconsolável é
sempre a morte de entes queridos, e a sepultamos. O sepultamento – sete dias
após o desenlace – foi pouco depois das 17 horas, encerrando o hercúleo e de
todo louvável esforço da família, capitaneada pelo Dr. Jetete Guimarães
Tavares, irmão dela, para trazê-la de Portugal e sepultá-la entre os seus.
Valdeíra, filha de Francisco com dona Lídia,
pertencia a três grupos de irmãos, a saber: os irmãos apenas de mãe, do
primeiro relacionamento de Lídia; os irmãos de pai e mãe, frutos do primeiro
casamento de seu pai, dentre os quais sobressai o Dr. Jetete Guimarães; os
irmãos de pai, gerados do segundo casamento do Francisco.
Sou, com honra indizível, amigo do último
grupo familiar citado, ou seja, dos filhos do Francisco com a Vera, falecida há
dois anos: Héber Sansão, Priscila, Áurea Lúcia e Hete Maom. Amo esses meninos (já
nem tão meninos assim, mas homens e mulheres), porque, como amigo dos pais
deles, acompanhei-lhes a gestação e os vi nascer e crescer. Eis aí a razão da
minha dor e, por conseguinte, da viagem unicamente para participar das exéquias,
em outra cidade e outro Estado.
Saí de Imperatriz sem abraçar a Priscila e a
Áurea, porque ainda dormiam. Abraçando, contudo, o Francisco e o Hete, pedi a
eles que as abraçassem por mim. Acompanhado por eles até o embarque, a despeito
da vontade imensa de voltar para os meus em casa, não pude deixar de – emotivo
– evocar silenciosamente as palavras de Khalil Gibran, em O Profeta: “Como partirei em paz e sem sofrimento? Não, não
deixarei esta cidade sem uma ferida na alma.”
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