segunda-feira, 16 de julho de 2012

As Exéquias de Valdeíra


Cheguei: moro aqui, estou em casa. Essa é, para mim – como creio ser para todas as demais pessoas – a etapa mais aprazível de toda e qualquer viagem. É a alegria do retorno, que se faz acompanhar pela segurança do estar em casa. Nada é melhor do que isso, claro: nem mesmo as descobertas e emoções da melhor viagem do mundo.

Pois bem. Fui a Imperatriz, Estado do Maranhão, sábado, dia 14, anteontem e voltei hoje, dia 16, desembarcando exatamente às 14h28min, no Terminal Rodoviário “Miguel Pernambuco”. Viagem triste para mim, porque fui participar do velório e sepultamento de Valdeíra Guimarães, filha de Francisco Rodrigues Tavares, meu amigo e mais que um irmão.

Valdeíra era uma jovem senhora, que morou e trabalhou em Portugal durante uns sete anos e agora resolvera regressar, voltando para o Brasil. Não teve, contudo, o prazer de dizer o “cheguei: moro aqui, estou em casa”, porque faleceu lá. Adoeceu em dezembro de 2011, uma semana antes de voltar e, depois de aproximadamente sete meses em coma, faleceu em Caldas da Rainha. Deixou marido e filhos com o legado da tristeza que já não pode ser consolada.

Valdeíra e seu pai almoçaram em minha casa, em julho de 2005, dois dias antes da ida dela a Portugal. E, embora eu nunca mais a visse com vida, voltou ao Brasil, depois disso, algumas vezes, sempre alegre, cheia de vida e de muita esperança. Não teve, todavia, o prazer do regresso definitivo com vida para junto dos seus: voltou morta, encerrando tristemente sua existência e deixando-nos a sofrer por sua ida de nosso meio.

O féretro chegou a Imperatriz seis dias após o óbito. Começamos o velório exatamente às 2h35min, já na madrugada de domingo, dia 15. Choramos a dor inconsolável de seu desenlace, porque inconsolável é sempre a morte de entes queridos, e a sepultamos. O sepultamento – sete dias após o desenlace – foi pouco depois das 17 horas, encerrando o hercúleo e de todo louvável esforço da família, capitaneada pelo Dr. Jetete Guimarães Tavares, irmão dela, para trazê-la de Portugal e sepultá-la entre os seus.

Valdeíra, filha de Francisco com dona Lídia, pertencia a três grupos de irmãos, a saber: os irmãos apenas de mãe, do primeiro relacionamento de Lídia; os irmãos de pai e mãe, frutos do primeiro casamento de seu pai, dentre os quais sobressai o Dr. Jetete Guimarães; os irmãos de pai, gerados do segundo casamento do Francisco.

Sou, com honra indizível, amigo do último grupo familiar citado, ou seja, dos filhos do Francisco com a Vera, falecida há dois anos: Héber Sansão, Priscila, Áurea Lúcia e Hete Maom. Amo esses meninos (já nem tão meninos assim, mas homens e mulheres), porque, como amigo dos pais deles, acompanhei-lhes a gestação e os vi nascer e crescer. Eis aí a razão da minha dor e, por conseguinte, da viagem unicamente para participar das exéquias, em outra cidade e outro Estado.

Saí de Imperatriz sem abraçar a Priscila e a Áurea, porque ainda dormiam. Abraçando, contudo, o Francisco e o Hete, pedi a eles que as abraçassem por mim. Acompanhado por eles até o embarque, a despeito da vontade imensa de voltar para os meus em casa, não pude deixar de – emotivo – evocar silenciosamente as palavras de Khalil Gibran, em O Profeta: “Como partirei em paz e sem sofrimento? Não, não deixarei esta cidade sem uma ferida na alma.” 

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