Resolvi reler Como Tratar as Mulheres, de William Camus, traduzido do original Comment s’Accomoder des Femmes por C. Luz e publicado pela Editora Artenova S. A., a qual, salvo engano, deixou de existir. Comprei-o em maio de 1978 e li com avidez, recém-saído da adolescência, com exacerbada curiosidade sobre sexo. Depois o esqueci, por quase trinta anos, entre os muitos outros livros que possuo, acudindo-me somente agora a ideia da releitura. É muito agradável e altamente proveitoso, naturalmente com visão diferenciada pela formação universitária e a experiência de vida adquirida, reler agora os livros que li há lustros e décadas.
Como Tratar as Mulheres é uma obra interessante, que ensina a amar e admirar a mulher, muito embora uma leitura desavisada possa fazer parecer o contrário, por ser entremeado de rasgos espirituosos, sem embargo do resgate histórico-científico da evolução dos humanos ao longo dos tempos. É um livro sério, mas escrito de forma brincalhona, sem a sisudez.
São 199 páginas e seis capítulos, cada um deles começando com epígrafe e terminando, da mesma forma, com um pensamento filosófico. O primeiro tem como epígrafe o pensamento: “Estamos quase acordando quando sonhamos que estamos sonhando.” E termina com este, de Tristan Bernard: “Os otimistas e os pessimistas têm um defeito em comum: têm medo da verdade.” William Camus é, sem dúvida, um baita brincalhão que faz questão de registrar, expressa e solenemente, que não é misógino.
Começa a vivacidade já no primeiro parágrafo do primeiro capítulo, a que, com letras garrafais, deu o título de “Advertência”, onde ele diz solenemente: “Senhores, este livro é de vocês. Confiem-no a sua companheira e perderão imediatamente as vantagens que dele podem retirar.” Logo mais à frente, no mesmo capítulo, dispara: “O homem é simplesmente um macaco sem pelos, a mulher é a sua fêmea natural.” E, para não fechar diferentemente, no último parágrafo do último capítulo conclui de forma grave, mas sem abrir mão da ironia tão peculiar ao longo da obra: “Conscientes de nossas possibilidades evolutivas momentâneas, continuemos então a viver como macacos superiores; o mais difícil será persuadir nossa fêmea que ela é uma macaca.” É, de fato, um gozador!
Isso aqui, contudo, não é resenha: é uma crônica simplória com que busco homenagear as mulheres, expressando o carinho, respeito e admiração que sempre tive pela nossa fêmea natural. Quero também, como homenagem, declinar a principal razão da releitura. É que na bela crônica “Chris não está no Google”, meu amigo Guilherme José Purvin de Figueiredo, ao evocar episódio de 26 de março de 1977, no último parágrafo, faz sobre a moça a quem chama de “musa da esquerda na São Francisco”, uma afirmação que me lembrou algo dito no livro.
Guilherme Purvin diz, brincalhonamente: “Naquela manhã aprendi muita coisa, menos a dar um beijo na Chris. Na verdade, o Umberto, o Tatuí e o Marcelo também não. Azar o nosso, pois na reunião seguinte ela já namorava um alienado frequentador da Atlética. Resumindo: O quadro de Dom Pedro II, assinado por Benedito Calixto, está desaparecido. Assim como a Chris, que sequer aparece no Google. Esperava identificá-la como alguma pesquisadora gorda, descabelada e pretensiosa, com os dentes amarelos de nicotina, falando de Joyce e Proust. Deve ter se casado com algum boçal, saradão e de direita. Ou, quem sabe, com o Geraldo Vandré?”
A expressão “pesquisadora gorda”, de Purvin, lembrou-me o que disse alguém identificado no livro por William Camus apenas com as iniciais O. B.: “ A única vez que um homem se sente bem com um excesso de peso é quando o constata na mulher com a qual quase se casou.” Daí resolvi reler o livro. Registro, todavia, minha discordância desse observador citado por William Camus, pois há muitas gordinhas que são lindas ao extremo.
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