sábado, 17 de outubro de 2009
Sopinha de remédios e sociedade sui generis
Ácido acetilsalicílico, captopril, carvedilol, digoxina, espironolactona e furosemida, eis aí alguns dos remédios que tomo diariamente. Esses aí são por causa da cardiopatia e os tomo permanentemente há mais de um ano, sem previsão de parar. Mas, como de vez em quando tenho outros problemas de saúde, tipo alergia respiratória, dermatite e reumatismo, acabo tomando mais outros medicamentos. Caramba! Sou, pelo conteúdo, uma drogaria semovente.
Abrindo e fechando parêntesis, semovente é o ser ou a coisa animada que se move por si mesma. Daí a classificação dos bens em móveis, imóveis e semoventes, pelo Código Civil. Bens móveis são os que podem ser movidos pelo ser humano, sem modificação ou prejuízo da essência, como carros e mesas, por exemplo; bens imóveis são os terrenos e suas acessões físicas, e ainda os assim declarados por lei; bens semoventes são os bois, os cavalos, e assim por diante.
Tomar tanto remédio diariamente me incomoda, é óbvio, mas não muito, a não ser o bolso, que é a parte mais sensível do homem (e da mulher também). É claro, já me pareço um sócio da rede Big Ben, só que é uma espécie de sócio a que os manuais de Direito Societário e de Contabilidade não fazem a menor alusão, a saber, aquele sócio que injeta recursos frequentemente, mas não tem participação nos lucros. Seria um sócio passivo? Sei lá! Sou advogado e, antes de me graduar em Direito, formei-me no curso técnico de Contabilidade, mas nunca li nada a respeito nem ouvi falar desse tipo de sócio. Brincadeira, claro; mas que é verdade é. É uma sociedade sui generis.
Se não o incomoda muito, por que, volta e meia, escreve sobre o assunto? – há de se perguntar algum leitor. É que eu gosto de me lembrar sempre de que, se tomo remédio é porque estou doente, mas não estou morto. Mas não é somente por isso. É também porque, como já escrevi em outra ocasião, o nome genérico, a denominação do princípio farmacológico ativo dos medicamentos sempre me chamou a atenção. Alguns (se não quase todos) são bem diferentes do linguajar do homem comum.
O professor Gerson, de São Paulo, leitor das minhas crônicas no blogue http://valdinar.zip.net, contou, no comentário à crônica “Fumarato de Cetotifeno”, que toma diariamente cloridrato de trazodona. Aliás, a manifestação do leitor não tem preço, tem valor e valor incalculável. O leitor merece todo o respeito e carinho, na boa e mais profunda acepção dessas palavras. Se me demoro um pouco mais de uma crônica para a outra ou, ainda, quando o jornal deixa de deixar publicar o que escrevo, logo vêm dois, três ou mais leitores marabaenses dizendo-me: “Doutor, não deixe de escrever não! Eu leio sempre seus textos e gosto muito deles.” Do mesmo jeito, leitores de São Paulo, do Rio e de outros lugares, têm-se manifestado pela rede mundial de computadores.
Um dia (já faz alguns anos, pois ainda estava na Universidade), um dos meus professores de Direito abordou-me na porta do Banco do Brasil e, brincando, perguntou: “E aí, gramático? Quando é que vai sair da gramática?” E, antes que lhe respondesse, foi logo me dizendo: “Olhe lá, estou brincando. Não vá pôr meu nome lá não!” Também fiquei feliz um dia desses quando me disse um dos colegas da Universidade, da turma de Direito de 1996, que só compra o jornal Correio do Tocantins, ou o jornal Opinião (Marabá, infelizmente, ainda só tem esses dois jornais) quando sabe que tem a minha crônica.
Há, todavia, quem não gosta do que escrevo, o que é natural. Existem pessoas que se incomodam até com o latim, que já é morto, imagine com a balela de cronista de meia-tigela, que, muito embora doente, ainda está vivo. Agradar a todos, com sabemos, é simplesmente impossível. Ah!... Antes que me esqueça, só falei de remédios hoje porque tive que comprar ácido acetilsalicílico, captopril, carvedilol, digoxina, espironolactona, furosemida e dipropionato de betametasona (este último, de uso dermatológico). “Mas é claro, meu chefe!” – como diz o amigo Milton Farias.
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2 comentários:
PARABÉNS pelo conceito e proposta deste blog! extremo bom gosto! te sigo!
Muito obrigado, meu caro Cristiano!
Desculpe-me por ter demorado tanto a publicar seu comentário. É que me esqueci de que resolvera fazer a moderação. Somente hoje, 5/11, é que me lembrei.
Valeu! Vou ler o seu blogue também e comentar.
Abraço e tudo de bom!
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