sexta-feira, 16 de dezembro de 2011

Dar comida aos cãos

“Vou dar comida aos meus cãos.” Essa é a frase que costumo dizer, quando vou alimentar meus cães, Sansão e Aquiles. O plural de “cão”, quando se refere ao animal, é “cães”, sabemos disso. Eu, contudo, por brincadeira, digo “cãos”, pois não são poucos os que, ouvindo isso, vão pensar que o plural “cãos” não existe. Claro que existe, conquanto o significado seja outro. 

“Cãos” é o plural de “cão”, substantivo masculino, que significa cabelos embranquecidos pela idade, embora muitos falantes do português só conheçam a forma “cã”, substantivo feminino, cujo plural é “cãs”. Aliás, pelo menos no Brasil, o que mais se emprega é o plural da forma feminina, havendo, por conseguinte, quem nem sequer saiba que existe o singular “cã”.

 Há outros significados para palavra “cão”, significados estes que deixo, propositadamente, de registrar. Informo, todavia, para curiosidade do leitor, que não me refiro ao significado popular e regionalista diabo. Os significados a que me refiro estão, por exemplo, no Dicionário da Língua Portuguesa, da Porto Editora, de Lisboa, Portugal. E em outros bons dicionários também, é claro. Basta dar uma conferida, até porque é agradável ler dicionário. Bom, pelo menos eu acho.

Há pessoas e pessoas que têm um conhecimento muito limitado da língua portuguesa, mas, a despeito disso, se arvoram de conhecedoras e, com muita frequência, se atrevem a dizer que isso ou aquilo está errado, quando, na realidade, está certo e elas é que não o sabem. Ih, como já vi muito isso acontecer! O indivíduo pensa que a coisa está errada e já sai alardeando, como se tivesse a certeza que não tem.

Lembro-me, por exemplo, de duas irmãzinhas meio idiotas lá de Xinguara, as quais, ao me virem dizer, como dirigente, “convido a igreja a, de pé, ler o texto tal da Bíblia”, pensaram logo que falava erradamente e, lá se foram elas, abobalhada e descaradamente, procurar nos dicionários a palavra “adipé”, pois julgavam que não existia. E, como não a encontraram, ficaram comentando a coisa entre si. Haja paciência para suportar tanta asneira! Isso faz muitos anos, mas, sempre que me lembro da petulância desbragada das irmãzinhas santas, não deixo de me aborrecer um pouco.

As tais irmãzinhas, se tivessem sido honestas e seguido o que diz a Bíblia, em vez de ficarem comentando entre si, ter-me-iam perguntado se tal palavra existia. E aí, lógico, eu lhes explicaria, com todo o carinho, que esse “de pé” aí da minha frase é adjunto adverbial de modo, substituível pelo também adjunto adverbial de modo “em pé”, que muitos iguais a elas pensam ser a única forma correta. Ter-lhes-ia dito também que, “adipé”, se existisse (como não existia), seria substantivo, adjetivo ou coisa parecida e não se prestaria para emprego no contexto em que eu empregava “a, de pé,...”.

Registro, para concluir, que as tais sabichonas cursavam o ensino médio e trabalhavam no comércio, razões pelas quais não deveriam ser tão ignorantes como eram. Mas eram, e – o que é pior – continuam sendo. Passam-se os anos e elas mudam apenas de idade, as atitudes e a ignorância continuam as mesmas.

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