domingo, 4 de agosto de 2024

Eu e meu livro, Rubem Braga e seu pé de milho

 


São 19h47. Noite de 3 de agosto de 2024, ainda verão para nós. Não chove, há vários dias, e tudo está muito seco. Isso, contudo, é apenas o registro, pois é natural que esteja assim. Nada de anormal, graças a Deus. Aliás, isso também é apenas o registro que faço da minha crença, que é tal qual a de milhões. Existem os outros que não creem nem pensam assim. O que não é problema para mim. Crença, desde que inofensiva a terceiros, não se discute ou, pelo menos, não se deveria discutir. A liberdade de crença não deve servir para prejudicar. E, por trivial que seja, isso também, mais uma vez, é só um registro.

Falta de assunto para cronicar? Que nada. Há muitos assuntos, assuntos em demasia. Eu é que não estou nem aí para eles. Não quero saber. Gosto mesmo, de vez em quando, de escrever por escrever. Baboseira, se alguém assim pensa. Quero apenas cronicar sem compromisso. Como diz a lição de Leandro Konder, no livro As artes da palavra: elementos para uma poética marxista: “Cada cronista imprime seu estilo próprio, sua maneira particular de ver fatos curiosos, de se divertir e divertir os leitores.”

Terminaram as férias de julho e voltaram as aulas. Correria de novo para muita gente, para mim inclusive. Na segunda-feira, dia 5, começarão minhas aulas do quinto período de licenciatura em Letras. Hoje, sábado, houve convenções partidárias em vários municípios, conforme o calendário das eleições municipais de 2024. Gente boa e gente ruim. O nome convenção, notadamente no plural convenções, já é bem sugestivo, se é que você me entende. Em breve, os pedidos de registro de candidatura. Correria. Mentiras. Conchavos. Fake news. O diabo a quatro, como dizem. Já sabemos.

Novidade que me interessa mesmo e espero que interesse a muitos: chegou meu livro de crônicas, Crônica e café à sombra do cupuzeiro, da Scortecci Editora! A compra pode ser diretamente do autor, assim como das livrarias da editora e das livrarias conveniadas, com retirada na livraria ou recebimento pelos Correios. Semelhantemente, quem compra do autor recebe pessoalmente ou, se mora em outra cidade, pelos Correios. Comprar diretamente do autor tem a vantagem de receber com dedicatória e autógrafo. Isso tudo, porém, evidentemente, é só um registro.

Como para Rubem Braga, na crônica “Um pé de milho”, a vinda a lume de Crônica e café é o assunto mais interessante. Para mim e para os meus leitores. Assim, bem que eu pudera ter começado como começou Rubem. Ele ao, entusiasticamente, noticiar que seu pé milho pendoara, começou a famosa crônica assim: “Os americanos, através do radar, entraram em contato com a Lua, o que não deixa de ser emocionante. Mas o fato mais importante da semana aconteceu com o meu pé de milho.” Pois bem, mudando o que deva ser mudado, digo o mesmo do livro. 


domingo, 28 de julho de 2024

O neologismo letrólogo

 


Quem estuda Arqueologia é arqueólogo. Quem estuda Antropologia é antropólogo, quem estuda Geografia é geógrafo. Pois bem, quem estuda Letras é letrólogo, mas muitos talvez até pensem que não existe essa palavra e, mais do que isso, a profissão de letrólogo. Existe, sim. Eu, porém, entendo a dúvida de quem pensa não existir. É porque, até recentemente, para designar esse profissional, se usava apenas a expressão licenciado em Letras.

 

Mudou. A palavra letrólogo está registrada como substantivo masculino no Vocabulário Ortográfico da Língua Portuguesa, da Academia Brasileira de Letras. E também com a devida definição na seção Novas Palavras do site da Academia, aba Nossa Língua: “Profissional graduado em Letras.” E acrescenta-se entre colchetes: “Como a área de atuação é muito ampla, o letrólogo normalmente adota a designação referente a sua especialidade ou atividade profissional (linguista, filólogo, gramático, lexicógrafo, tradutor, crítico literário, etc.).” Estranho não iniciar a enumeração com professor de português.

 

Trata-se, com efeito, de lista exemplificativa. Não há dúvida de que está contemplada na abreviatura etc. (do latim et cetera) da definição em apreço a profissão de professor de português. Penso, no entanto, com a devida vênia, que não foi boa a ideia do redator do verbete. Se fora eu, teria explicitado entre as demais atividades profissionais citadas a de professor de português, que ainda é, salvo engano do cronista, a profissão da maioria dos letrólogos, principalmente quando recém-saídos da graduação.

 

Por falar em etc., é fato que, embora muito usada, muitas pessoas não sabem o significado dessa abreviatura. E, menos ainda, sabem escrevê-la por extenso. Alguns afoitos, inventam coisas do arco-da-velha, como, por exemplo, dizer que etc. é abreviatura de “este texto continua”. Engana-se quem o faz. Não é isso. O significado de etc. (sempre com o ponto, por ser abreviatura), tradução de et cetera, é “e outras coisas”, “e outros da mesma espécie”, “e o resto”, “e assim por diante”.

 

Quanto à escrita por extenso do que está abreviado, há divergências. Uns dizem que é et caetera. Outros, que é et coetera. E outros, ainda, que é et cetera. Napoleão Mendes de Almeida, no seu Dicionário de Questões Vernáculas e na sua Gramática Latina, diz que o correto é et cetera. E acrescenta: “Não se escreve caetera nem muito menos coetera.” Napoleão, nosso latinista maior, foi, por algum tempo, meu professor de português. Sigo, é claro, a lição do meu mestre, que, aliás, também explica e fundamenta a pronúncia “éd cétera”. Isso, contudo, é assunto para a crônica de outro dia.  


sábado, 20 de julho de 2024

Beleza e valor do canto de página

 

O escritor baiano Antônio Torres, romancista de renome internacional e imortal da Academia Brasileira de Letras, se diz um fascinado por título. E, como bom literato, à guisa de intertextualidade, brinca em alusão à famosa frase do personagem de Shakespeare: “Um título! Meu reino por um título!” Na minha biblioteca, tenho livros que me fascinam já pelo título. Um deles é Jornalismo e literatura: a sedução da palavra, que trata, como se vê, de jornalismo e literatura. E, sem prejuízo de outros gêneros, vai a fundo na história da crônica.

A história da crônica é fascinante. A crônica de jornal praticada por Machado de Assis, nos anos de 1859 a 1862, por exemplo, era bem mais extensa do que a de Carlos Heitor Cony, Moacyr Scliar, Otto Lara Resende, Ruy Castro e outros cronistas de nossos dias. A beleza e a essência, contudo, são iguais. Reduzida ao canto de página, a crônica perdeu espaço para o texto e diminuiu o número de palavras, modernamente falando, número de toques, mas, por demandar menos tempo de leitura, ganhou em atração do leitor. Que maravilha era o canto de página de Otto Lara Resende na Folha de S. Paulo, de 1991 a 1992: crônica impecavelmente com cinco parágrafos e sempre mais ou menos o mesmo número de palavras, tudo adequado ao exíguo espaço determinado.

Hoje, bem mais do que antes, essa adequação se impõe. O ser humano – salvo as exceções, que naturalmente são poucas –, a cada dia que passa, se torna mais alienado, porque impaciente e incapaz de se concentrar mais do que por alguns segundos em qualquer leitura. Livro ou qualquer outro texto fora as mensagens de celular? Nem pensar. A mensagem tem que ser curta e, de preferência, alienante. Caso contrário, será tachada de textão e abandonada sem ler. Isso talvez explique, penso, a adoção pela publicidade de técnicas sub-repticiamente dominantes, aliciadoras. Sei lá! Aí já é outra história. Ou não.

Isso deveras me incomoda. Por vários motivos, notadamente como escritor. Embora não viva das insignificâncias literárias que escrevo, quem escreve quer ser lido. Tem valor inestimável a aceitação do leitor. Além disso, fico muito feliz ao ver que algo meu foi citado em um livro de doutrina, artigo acadêmico, trabalho de conclusão de curso, decisão judicial, e assim por diante, ou, ainda, que artigo de minha autoria foi republicado na revista de alguma universidade. Como eu disse, porém, o fato de querer ser lido é apenas um dos motivos.

O que esperar de tão abusiva e dominadoramente alienante relação com a tecnologia? É reversível? Até aonde nos levarão a falta de concentração, a incapacidade para a leitura e a consequente alienação da pessoa? Sem ler, é impossível aprender e se atualizar. Como acompanhar as inovações científicas, tecnológicas, literárias e culturais? E os profissionais malformados e desatualizados pela incapacidade de ler? Perspectivas nada boas. O jornal impresso está desaparecendo. A despeito disso, porém, impresso ou virtual, viva o canto de página, digo, viva a crônica! Ah, sim!... José Sarney tem um livro de crônicas intitulado Canto de página: notas de um brasileiro atento.


quinta-feira, 18 de julho de 2024

Ligeiro meditar de uma bela manhã ensolarada

 

Julho de 2024, verão para nós. Dia 18, às 7 horas. Manhã de uma quinta-feira ensolarada. Apesar de ter dormido a desoras, ou seja, muito tarde, acordei cedo. Marabá está deslumbrantemente banhada de sol. Despertei e, mal escovei os dentes, fui ao banho de sol, na Rua Gaviões, em frente ao templo da Igreja Cristã Maranata, onde, a contemplar a imensidão, gosto de meditar de manhã e à tardinha. Meus pensamentos voam.

Olho o sol e a imensidão do céu, que realçam a minha pequenez. Tudo, lindo e imensamente inspirador, lembra-me o prefácio do livro A Intenção Primeira: um ensaio sobre a natureza do real, de Eduardo Moreira, escrito pelo filósofo e teólogo Leonardo Boff. Fisicamente pequeno, mas denso, de conteúdo profundo, o livro é maravilhoso. Já no prefácio, Boff nos dá, como bofetada, aquela sacudida mental ao mostrar, com ricas e sapientíssimas palavras, a pequenez do ser humano diante do Universo.

O banho de sol foi curto, sufocado (a palavra é exatamente essa) pelo turbilhão dos assuntos que me vêm ao pensamento. Volto para casa, afim de coar café e tomar bons goles, antes de começar a estudar, ler e escrever. Além de ler mais de um livro de cada vez, gosto de ler e escrever ao mesmo tempo. No momento, além da leitura diária de várias crônicas, leio dois livros, A Intenção Primeira: um ensaio sobre a natureza do real, de Eduardo Moreira, e O Pescador Ambicioso e o Peixe Encantado: a busca pela justa medida, de Leonardo Boff.

Recebo pelo WhatsApp mensagem do meu filho Douglas Correia Monteiro, que mora em Belém e, desde a noite de ontem, está em Marabá, a trabalho, como faz de vez em quando. Está estudando hebraico e ficou muito feliz pelo presente que lhe fiz, A Torá Comentada: edição bilíngue hebraico-português, de Brian Kibuuka. E, do terminal rodoviário, a Câmelha, que vai a Conceição do Araguaia, com o Samuel, para um encontro de família, avisa-me que estão saindo. Começa bem o meu dia, graças a Deus!

No quintal, as árvores e as réstias de sol que lhe atravessam a folhagem formam belíssima paisagem pelo misto de sol e sombra – mais sombra do que sol – sob o alegre cantar dos passarinhos, inclusivamente de algumas curicas, que sobrevoam bem alto. Bem diz a Bíblia: “Os céus proclamam a glória de Deus, e o firmamento anuncia as obras de suas mãos” (Sl 19.1). Aleluia! Vou tomar o meu café.


domingo, 14 de julho de 2024

Sou mesmo, às vezes, um fracote

 

Eu sou fracote mesmo. Às vezes. Nem sempre. Certo? Outra coisa. Fracote, sim, mas não como aquele indivíduo da fraquejada. Que ninguém venha confundir as coisas. Por que sou fracote? Porque, às vezes, vacilo diante de certas situações, mesmo em relação a algo que fiz sem maldade e propositadamente, refletidamente. É natural isso? Penso que é. Sou homem e, por isso, sinto medo, fico em dúvida, hesito, e assim por diante. Sou homem e, por isso, imperfeito. Tenho muito medo dos donos da verdade, mas – estou convicto – eles não existem. Ainda bem! 


Escolhi propositadamente o título da minha crônica mais recente, “Coisa, coisar e colear”. Sou, como advogado, um profissional da palavra. Além disso, sou cronista e, se não bastara, concluí em junho o segundo ano da graduação em Letras – Português e Inglês. Estou cursando Letras porque amo a Língua Portuguesa. Gosto, por tudo isso, de brincar com as palavras. Daí a escolha de muitos títulos de crônica e, não raramente, as construções gramaticais que alguns, talvez muitos, acham estranhos. Muitos, aliás, vão além: pensam que me enganei ou, sei lá, até dizem que tenho mau gosto. 


Bastou, pois, que alguém muito famoso me questionasse agora há pouco pelo WhatsApp, para que eu imediatamente vacilasse e até pensasse que fizera besteira com o título dado à crônica – o qual, repito, foi escolhido propositadamente. Hesitei. Tive, momentaneamente, receio do ridículo. Depois, exultei ao pensar comigo mesmo: “Que nada! Sou advogado e cronista, um profissional da palavra. Se alguns não gostam de brincar com as palavras, o problema não é meu. Minhas brincadeiras até podem ser sem graça, mas aí já é outra história. Tudo bem com o título.” Falta de bom senso ou autocrítica? Não. Apenas convicção. 


Qual foi o questionamento? Este: “O que é Coisa, coisar, colear? Um livro? De quem?”, escrevera o amigo. Quando vi a mensagem, ele estava off-line. Respondi: “Boa tarde! É o título da minha crônica de hoje.” Fui cozinhar o arroz do almoço com o episódio na cabeça. Lá, resolvi escrever a crônica, ou seja, mais uma insignificância literária vem a lume. Como o diálogo foi apenas esse aí, não sei se a pergunta do amigo decorreu de estranhamento ou não. Talvez tenha me assustado irrefletidamente. Vai que ele nem havia achado estranho o título. Sei lá. Gostei porque me rendeu mais uma crônica. Maravilha! 


Quanto ao verbo colear, já o conheço não é de agora. Amo as abonações literárias. Otto Lara Resende, no quarto e penúltimo parágrafo da crônica “A rua, a fila, o acaso”, deixou esta bela abonação: “Quando dei comigo de volta, estava espiando uma fila que coleava pela calçada.” De Augusto dos Anjos, colho este rasgo: “No chão coleia a lagartixa.” E de Eduardo Frieiro este: “Um córrego de águas límpidas coleia em amplas curvas sobre um leito de pedras.” Os dois últimos exemplos são do Aurélio, que, além dessas, dá várias outras abonações. Colear, por sinal, tem além desse outros significados. 


Coisa, coisar e colear

    

Colear. Eu coleio, tu coleias, ele coleia, nós coleamos, vós coleais, eles coleiam. Que coleada ou coleação é essa? Ah, nada. Nada de mais nem de menos. É só mesmo para coisar. Só para puxar conversa fiada. Eu coiso, tu coisas, ele coisa, nós coisamos, vós coisais, eles coisam. Coisar é palavra-ônibus. Substitui aquela palavra que você não sabe dizer qual é. Coisa é substantivo deverbal de coisar. “Coisa é tudo e não é nada”, diz Gabriel Perissé, no livro Ler, Pensar e Escrever. De colear, ele não fala. Claro, nada que ver uma coisa com a outra. Não vou explicar o que é colear nas suas várias acepções, mas muitos coleiam, embora não saibam que estão coleando.

E palavra-valise? Que que é isso? Bom, poderia, tal qual fiz com colear, não dizer aqui e recomendar a consulta a bons dicionários, pois é pesquisando que se aprende mais. Vou, contudo, responder em homenagem à Professora Céu Marques, do blogue Língua Portuguesa (https://www.linguaportuguesa.blog.br): “É uma palavra formada pela união de partes de duas outras existentes na língua. Geralmente se usa o início de uma palavra e o final de outra.” Exemplos: chafé, namorido, portunhol, sapatênis, telemóvel.

Não sei qual seu estado emocional hoje, mas a vida precisa ter sentido. A partir das pequenas coisas. As férias, mal começaram, estão acabando. Julho está indo embora. O tempo passa, queira-se ou não queira. Não deixe de fazer algo só por saber que será demorado, pois, fazendo ou não fazendo, o tempo passará. É tempo de mais? Que nada! A Bíblia diz, no livro de Salmos, capítulo 90, versículo 10, parte final, que “tudo passa rapidamente, e nós voamos”. Se você decidir estudar, viajar, fazer qualquer coisa. Ler um livro, fazer um curso, por exemplo, o tempo passará. Se você não fizer, passará igualmente, e você não fez. Deixou passar a oportunidade.

Já que o tempo vai passar, faça algo. Deixe o tempo fluir, mas faça alguma coisa. Ele fluirá de qualquer maneira, por mais tolo que pareça dizer isso. O problema não está em o tempo passar, pois ele não pode ser parado, mas em você o deixar correr in albis, como diz a linguagem jurídica, sem fazer coisa alguma. Vale lembrar aqui outra lição da Bíblia. Diz Eclesiastes, capítulo 3, versículo 1: “Tudo tem o seu tempo determinado, e há tempo para todo propósito debaixo do céu.” Não se trata de fatalismo, mas de uso racional do tempo. É isso. Faça o tempo em sua vida ter sentido.

A caminhada, seja longa ou seja curta, começa com o primeiro passo. Isso é óbvio? Sim, é. É melhor, todavia, do que ser paradoxal. Nunca vi problema algum em dizer o óbvio. É, às vezes, até necessário. Se é óbvio, todos sabem. É necessário, porém, aqui e acolá, ser relembrado. Lembrar isso na hora do cansaço ou do desânimo fará a diferença na vida de qualquer um. Se não der o primeiro passo, não caminhará. A caminhada, longa ou curta, começará com o primeiro passo e terminará com o derradeiro. No meio, entre eles, estará a persistência. E assim é em relação a tudo na vida. 

segunda-feira, 8 de julho de 2024

É bom ser lembrado por alguém!

 

É bom ser lembrado por alguém. Gosto, por isso, de citar uma frase antológica de Innocêncio de Jesus Viégas, na crônica “A sabedoria do mendigo”, publicada na edição de setembro de 1996 (ano XIX – n.º 5) do jornal maçônico de circulação mensal O Esquadro. O jornal, infelizmente, sofreu solução de continuidade. Salvo engano meu, a última edição saiu em março de 2001, quando deixou de circular. A lição, contudo, ficou guardada, insculpida no meu pensamento, a moldar-me a personalidade. Diz: “É bom ser amigo de alguém e ter a satisfação de ser reconhecido como tal.”

São 8 de julho de 2024, 10h19, quando me sento para escrever. Marabá está agradavelmente nublada, sob chuva fina, que vai molhando a terra lentamente. Choveu grosso mais cedo. Chuva forte, mas, graças a Deus, mansa e pacífica. Sem relampos e trovões. É a chuva do caju, como dizem. E o dia está muito lindo. Escrevi relampo propositadamente. “Pra tirar onda, meu irmão!”, como diz a música “Motoboy”, de Pepe Moreno. A palavra está no Vocabulário Ortográfico da Língua Portuguesa, da Academia Brasileira de Letras, e, claro, é dicionarizada. Muitos, porém, não sabem disso.

Lembrei-me de Raymundo Netto, cronista do jornal cearense O Povo, jornalista e escritor, autor de Crônicas absurdas de segunda, obra de fôlego que, embora seja um livro de crônicas, enriquece a literatura brasileira. Raymundo Netto é muito culto, escreve bem, e o livro, por tudo isso, é riquíssimo e enriquecedor literariamente de quem, por felicidade, o lê. Falo ligeiramente de ambos – do autor e do livro – na minha crônica “A crítica abalizada das visagens literárias”. Pois é, Netto também escreve relampo.

O pensamento da gente voa. Falar de Raymundo Netto me fez lembrar de dois amigos meus muito queridos, a Dr.ª Clarissa de Cerqueira Pereira, ex-advogada da Câmara Municipal de Marabá, hoje servidora de carreira do Ministério Público de Contas Estado do Pará, e o Dr. Carlos Magno Gomes de Oliveira, também meu ex-colega de Câmara Municipal de Marabá e hoje juiz de direito do Tribunal de Justiça do Estado do Pará, um magistrado que, com retidão de caráter e dedicação aos estudos e ao trabalho, honra  e engrandece a Magistratura.

A Dr.ª Clarissa, em 4 de fevereiro de 2023, teve a delicadeza de fotografar o belíssimo cajueiro de Humberto de Campos, em Parnaíba, Piauí, e me enviar pelo WhatsApp. O cajueiro – agora com 128 anos – foi plantado, em 1896, pelo menino Humberto de Campos Veras que se tornaria imortal da Academia Brasileira de Letras. O Dr. Carlos Magno, em 16 de junho próximo passado, muito gentilmente, enviou-me, também pelo WhatsApp, uma foto ao lado de uma estátua. Embaixo, a mensagem: “Bom dia, meu amigo! Estou em Maceió, e, ao passar em frente à estátua de Aurélio Buarque de Holanda, não resisti fazer o registro e lhe enviar! Vou seguir a caminhada!” Gestos como esses são impagáveis. É bom ser lembrado por alguém!