quarta-feira, 20 de abril de 2016

Nós, evangélicos, somos intolerantes



Certa vez, em Xinguara, já faz alguns anos, quando eu ainda nem era evangélico protestante, conversava com um colega sobre religião. Aliás, nem era bem sobre religião: a conversa girava em torno de um debate político que acontecera na tevê, na noite anterior, sendo que um dos debatedores era o então deputado federal por Pernambuco Roberto Freire, do Partido Comunista Brasileiro (PCB). E, quando, a certa altura da conversa, eu o elogiei pelo fato de, mesmo ele sendo ateu, ser tolerante com a crença dos demais, o irmãozinho meu interlocutor, que era e ainda é membro da Igreja Evangélica Assembleia de Deus, me repreendeu asperamente.

Em seguida, contra a minha vontade, entabulamos um diálogo insípido, extremamente desagradável, que me deixou deveras aborrecido, pois sempre detestei pessoas intolerantes e preconceituosas, que se julgam as únicas detentoras da verdade absoluta, notadamente em matéria de fé. Eu ainda não era evangélico de direito, mas já o era de fato: cria na Bíblia Sagrada, como a Palavra de Deus, e em Jesus Cristo, como o Filho de Deus, meu Senhor e Salvador. Faltava somente filiar-me a uma denominação evangélico-protestante, como fiz algum tempo depois, entrando para a Igreja Presbiteriana do Brasil, a qual, anos depois, praticamente expulsar-me-ia por ser maçom. Ironia do destino. Há coisas que se não explicam, ou, pelo contrário, são explicadas até demasiadamente. Sei lá!

O problema do meu interlocutor naquela conversa é que ele era muito intolerante com as pessoas não crentes e com os crentes de outras denominações que não a denominação dele, como, aliás, infelizmente são quase todos os cristãos evangélicos que conheço. Ele simplesmente pensava que, por termos a convicção pela fé de que somente Jesus Cristo salva, temos de sair impondo a nossa verdade às demais pessoas, sem nos preocuparmos com a fé que elas professam. 
  
Foi demais. Muito chato e, acima de tudo, uma conversa infrutífera, amarga e sem graça.  Anos e anos se passaram, tornei-me evangélico e tudo que sempre desejei foi simplesmente ser crente: nenhum cargo, nenhuma posição de realce, nada mais, pois nunca desejei cargos de liderança por onde quer que passei. Ledo engano, esperança debalde, malograda: isso me seria negado. E foi. Oficialmente, não, mas, na prática, me expulsaram da minha igreja pelo fato de eu ser maçom. Intolerância é coisa do diabo, agora, mais do que nunca, o vejo. E sofro. Sim, eu o sofro há muito. Deus saberá até quando. Uma convicção, contudo, eu tenho: a Maçonaria é inocente nessa história.

 Em relação ao dito episódio ora relembrado, faço minhas, com muita propriedade, estas palavras de Mauricio Zágari, pinçadas de A Pecaminosa Intolerância dos Evangélicos: “[...] naquele dia, eu tive de admitir algo que é muito doloroso para um cristão: nós, evangélicos, somos intolerantes. Aliás, muito intolerantes.” Não somente naquele dia, hoje ainda mais o admito. E sofro. Nós, evangélicos, somos intolerantes. Eu, contudo, acrescento que intolerância é coisa do diabo e seus sequazes. Quem quiser que se peje.

É verdade. Desde criança, ouvia meu pai dizer que até o diabo tem os dele. É duro, mas penso que é verdade: o diabo tem os seus sequazes. Consola-me, contudo, saber disto: “O Senhor conhece os que lhe pertencem” (2 Tm 2.19). Isso me basta. O nosso tempo não é o tempo de Deus. Isso também é bíblico.

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