sábado, 30 de junho de 2012

Reminiscências e desilusão


O reencontro inesperado que o deixa muito feliz
Parece seguido ser de uma rejeição deliberada.
Inexprimível é a dor moral, que lhe deixa a cicatriz
Indelével, irremovível na mente apaixonada!

São, é claro, reminiscências de algo que não foi
E, portanto – oh, que pena! –, já não existe!
Contudo, a paixão, que é grande e tanto dói,
E dói como se de fato algo existira é o que persiste.

Ai, angústia que é guardada a sete chaves
Porque faz deveras abalar profundas convicções
Quase a quebrar, romper, destruir todos os entraves
Das mais severas, insuperáveis limitações.

Ah, como chegou sem previsão, sem ser esperada,
Ela se foi, com a ilusão não vivida embora sonhada!

quarta-feira, 13 de junho de 2012

Meu erro, aliás, um deles


“O meu erro é achar que as pessoas vão gostar de mim tanto quanto eu gosto delas.” Puxa vida, vi essa frase no Facebook, atribuída a Alan Harper, e simplesmente a amei, porque me identifico muito com ela. Não me preocupei em conferir a autoria nem a veracidade de sua existência, porque ela é tão verdadeira em minha vida, que poderia muito bem ter sido dita ou escrita por mim. É assim que acontece comigo: tenho problemas, às vezes, porque penso que as pessoas vão gostar de mim tanto quanto gosto delas. Penso que, às vezes, minha amizade se torna pesada por não ser compreendida. Que me perdoem as vítimas das minhas inconsequências involuntárias.

Não diria que é o meu erro: digo que é um deles, porque tenho muitos erros. Sou um poço ou amontoado de imperfeições e tenho medo de pessoas perfeitas, porque tenho convicção de que elas não existem. Sem querer aqui fazer a clássica e tão falada distinção entre amigos e colegas – até porque, na acepção restrita que se atribui ao termo, amigo não existe –, gosto de ter amigos e do contato com eles. Gosto de conversar desinteressadamente, apenas para conversar, porque isso me faz bem. Quem me conhece há mais tempo sabe disso e o comprova, embora não seja necessário.

Às vezes, fico horas e horas na rede mundial de computadores ou internet, como mais se usa dizer, conversando com pessoas amigas pelo Messenger, pelo Facebook e pelo Orkut. É hoje um deleite que a tecnologia nos possibilita, sem muito custo financeiro. Tenho, por isso, amigos de ambos os sexos de várias partes do Brasil, com os quais mantenho contato diariamente, com alguns deles até várias vezes por dia. Também gosto de pegar o telefone – fixo, ou celular, não importa – e ligar, desinteressadamente, para pessoas amigas, apenas para conversar. Não raro, faço ligações de 15, 20 minutos ou mais, somente para conversar. Embora não seja rico, ouso fazer isso e o faço porque tenho convicção de que se deve fazer o que gosta enquanto é vivo. Depois de morto, ficam apenas as lembranças e lamentações, quando não as intrigas e disputas patrimoniais. Credo!

Conversar, sorrir, brincar descontraidamente me faz bem, como tenho certeza que faz bem a qualquer ser humano normal, porque é ínsita à natureza humana a necessidade de comunicação, a necessidade da boa conversa como diversão. É bom falar e ouvir, quando isso é feito com as pessoas de quem gostamos, aquelas cuja presença, contato ou mesmo a simples lembrança nos dá prazer. Tenho paixão, na acepção de que gosto imensamente, pelas pessoas amigas, embora nem sempre seja correspondido ou, ao menos, compreendido.

Gosto, semelhantemente, de ajudar e ser ajudado, quando há necessidade. Certamente por ser maçom, esse sentimento, a cada dia, fica mais forte na minha vida, porque aprendi na Maçonaria que, com cordialidade e à medida das minhas possibilidades, devo ajudar e amparar o irmão maçom ou todo aquele que necessita da minha assistência. Não é, contudo, necessário ser maçom para ter a obrigação de fazer o bem. Quem não pode fazer bem, que, ao menos, não faça mal. Simples assim. Acredito nisso e, por acreditar, o pratico quando posso e defendo sempre.

Tenho paixão pelas pessoas, embora não seja tolo e até seja capaz de matar, se isso for necessário para defesa contra injusta agressão, atual ou iminente, a direito próprio ou de outrem. A lei penal brasileira e, mais do que ela, o direito natural me autoriza e até me impõe fazê-lo como dever universal. Isso, todavia, é outra história. Um abraço especial nos meus amigos e um beijo afetuoso nas amigas, hoje e sempre, porque isso faz bem. Como alguém já escreveu belamente: “Tu te tornas eternamente responsável por aquilo que cativas.”

terça-feira, 5 de junho de 2012

Agruras de urbanoide meia-tigela sem energia elétrica


Amanheceu 3 de junho de 2012 e, tal qual programado pela concessionária de energia elétrica, pouco antes das 7 horas, a energia foi desligada. Um domingo quase todo, em casa, sem energia elétrica: sem ar-condicionado nem ventilador, sem computador nem internet, sem tevê nem condições de ler ou escrever. Previsão de volta da energia: lá para as 11 horas ou mais. É demais, não aguento, não! Urbanoide meia-tigela que não consegue ficar muito tempo longe de um computador conectado à internet sem se sentir incomodado, salvo se puder ler ou fazer qualquer outra atividade intelectual, me desesperei.

Se fora no passado não muito remoto, com ou sem energia elétrica, iria à escola dominical. Agora, não. Perseguido, acossado, quase proscrito mesmo da Igreja Presbiteriana do Brasil, por ser maçom, já não frequento a igreja há mais de ano. E, assim, preencho minhas manhãs de domingo quase sempre em atividades intelectuais, lendo, estudando, escrevendo, uma vez que não sou dado a assistir à tevê. Quando não, vou à Praça Duque de Caxias, na Marabá Pioneira, juntar-me aos demais colegas do Senadinho. (Ora, vejam: vou-me rendendo à imposição do costume, sou obrigado a acrescentar o adjetivo “pioneira”, conquanto desejasse dizer ou escrever apenas “Marabá”. Que coisa!)

Pois bem. Não queria ir ao Senadinho hoje: por motivos que não quero nem posso declinar, queria mesmo era navegar na internet, conversar com pessoas amigas no Facebook, no Messenger, no Orkut. Eu amo fazer isso! Contudo, malgrado minha vontade e até mesmo intensa ansiedade, não pude fazê-lo, é óbvio. Impaciente, agoniado, o único jeito foi buscar refúgio saindo de casa. Caramba! Algo está muito errado quando, para se sentir bem ou, ao menos, um pouco melhor, alguém precisa sair de casa. E, assim, saí.

Saindo a pé, peguei a Avenida Boa Esperança e fui ter à feira livre, onde, deveras, não tenho o costume de ir, fazendo-o só muito raramente. Em aí chegando, avistei alguns conhecidos e até me encontrei com uma colega de trabalho, a Anna Barros, que fora comprar peixe. Mas, sem a energia elétrica, tudo estava muito estranho, atípico e sem graça. Para matar o tempo, conversei por alguns minutos com um feirante até então desconhecido para mim, o Mineiro, que, muito solícito, convidou-me a entrar na sua barra e sentar-me, embora não o tenha feito. Conversamos bastante tempo em pé mesmo, até que chegaram fregueses para ele atender, quando fui embora.

Da feira livre, tomando o táxi-lotação de um amigo, fui parar no Senadinho. O Senadinho – intelectual, ideológica e politicamente – é heterogêneo e discute de tudo: política, macro e microeconomia, artes, costumes, a vida alheia e tudo o mais que se possa imaginar, embora o principal seja a política marabaense. Os membros mais assíduos, de quarentões para lá e alguns até sempre muito exaltados, são: doutor Degas, Amin Zahlouth, Wilson (Wilsão), Artur, Carlos Maia (Carlute), Bosco Jadão, doutor Sizenando, deputado João Salame, Jesus Castanheira e muitos outros de cujo nome não sei ou agora não me lembro. Eu, pelas razões já expendidas, sou mais assíduo apenas aos sábados.

Sempre gostei da Praça Duque de Caxias e da Orla Sebastião Miranda, que, embora morando distante, no bairro das Laranjeiras, frequento diariamente: a praça, pela manhã e à tarde; a orla, sempre à tarde, onde fico a meditar, olhando o mais lindo pôr do sol que conheço e as águas do Tocantins. Abrindo e fechando parêntesis: antes da reforma ortográfica, era pôr-do-sol. Mas, esqueçamos isso. Gosto também de olhar as banhistas, que passeiam de jet ski ou vêm da praia, pois, claro, a mulher marabaense é linda, lindíssima. Nossas sereias são mais sereias!

    Algum tempo depois que chegara ao Senadinho, eis que também chegaram a minha mulher e o nosso filhinho de 7 anos, respectivamente, Câmelha e Samuel. E por lá ficamos até que a energia voltasse. Urbanoide não suporta ficar em casa sem energia elétrica. Lá almoçamos e compramos almoço para o Daniel, nosso filho de 14 anos, que ficara em casa. Passamos na casa dos amigos Lúcio Virgínio e Joaninha Batista, entabulamos aquela conversinha amável de sempre e, por fim, voltamos par casa. Foi assim meu domingo, 3 de junho de 2012, quase todo sem energia. Por essa e, é lógico, outras razões não declinadas, foi um pouco triste, desanimado. Nós, os humanos, somos profundamente complicados.   

  

domingo, 3 de junho de 2012

A Vetusta Casa de Afonso Pena


“Vetusta Casa de Afonso Pena” – aliás, em algumas placas, “Affonso”, com dois efes, e “Penna”, com dois enes –, assim é chamada pela comunidade jurídica da Cidade das Alterosas, com um misto de carinho e profunda admiração, a Faculdade de Direito da Universidade Federal de Minas Gerais. Para quem ainda não sabe ou por acaso não se lembra, a Cidade das Alterosas é Belo Horizonte e Afonso Pena, professor de Direito e um dos nossos primeiros presidentes da República, foi o fundador e primeiro diretor da Faculdade de Direito de Minas Gerais. Daí o nome Casa de Afonso Pena, dado à faculdade em sua homenagem.

Pois bem. Estive lá, para participar do Fórum Nacional de Direito Público, realizado de 23 a 25 de maio de 2012, promoção da Editora Fórum, em homenagem aos 120 anos da Faculdade de Direito da Universidade Federal de Minas Gerais e aos 80 anos da Ordem dos Advogados do Brasil – Seção de Minas Gerais, instituições mineiras cujas histórias se confundem ou se completam. Basta dizer que a sessão de instalação da Ordem se deu nas dependências da Casa de Afonso Pena.

Permaneci na cidade das 13 horas de 22 de maio, quando cheguei, às 8 horas do dia 26, quando, já saudoso daquela terra, peguei o avião de volta. Foi para mim uma experiência deslumbrante, por vários motivos. Como não poderia deixar de ser, fiquei apaixonado, tanto pelo ambiente acadêmico e cultural quanto pela cidade em si mesma e seu povo.

Guardarei, por isso, várias e muito boas recordações, como, por exemplo, para citar apenas duas, a amizade de José Brígido Pereira Pedras Júnior e, como maçom que sou, a visita ao Palácio Maçônico, sede da Grande Loja Maçônica de Minas Gerais, onde visitei a Loja Maçônica “Grão-Mestre Arlindo dos Santos”, n.º 226, dia 24 de maio, e as Lojas Maçônicas “Essênios do Terceiro Milênio”, n.º 246 e “Bello Horizonte”, n.º 1, reunidas em sessão conjunta dia 25.

Cativante, para dizer o mínimo, a humildade e hospitalidade dos irmãos maçons mineiros, que me receberam com galhardia. Impossível não dizer o mesmo da simpática amizade do Prof. José Brígido, grande jurista e membro do Instituto dos Advogados de Minas Gerais, que continua a exercer com brilhantismo a advocacia e já exerceu inúmeros cargos e funções jurídicas, como, por exemplo, professor universitário e consultor jurídico da Assembleia Legislativa de Minas Gerais.

Amei, por isso e muito mais, conhecer Belo Horizonte e a Vetusta Casa de Affonso Penna, academia que já formou e continua formando juristas da estirpe do advogado, escritor, ex-ministro do Supremo Tribunal Federal e ex-juiz da Corte Internacional de Haia José Francisco Rezek, por sinal um dos palestrantes do Fórum Nacional de Direito Público. Valeu a pena!

Ah, sim!... “Vetusta” aí – para quem não sabe e com o meu pedido de escusas a quem está calejado de saber – tem o significado de venerável, respeitável ou “a que a idade conferiu respeitabilidade; venerabilidade”, como bem registra o Dicionário Houaiss da Língua Portuguesa.