sábado, 10 de dezembro de 2011

Esperança


Leio a Primeira Epístola de Pedro, capítulo 3, versículo 15. E me detenho na parte final, que diz “e estai sempre preparados para responder com mansidão e temor a todo aquele que vos pedir a razão da esperança que há em vós”. Esperança. A Bíblia diz que as pessoas precisam ter esperança. Aliás, a Bíblia afirma aí que os cristãos têm esperança, não uma esperança vã, mas uma esperança que tem razão, e razão exigível, explicável, compreensível. É isso que o missivista diz aos destinatários.

Pedro falava, é claro, da esperança de salvação. As pessoas, contudo, precisam também de esperança material, porque vivem tempos difíceis. São tempos de desamor, iniquidade, falência do Estado e do Direito estatal: tudo está mais para desespero do que para esperança. E não há palavra uniforme a respeito. Os materialistas negam a esperança do porvir fora da existência física; os espiritualistas, a esperança que não seja da existência imaterial, espiritual.

Digo aí espiritualistas e materialistas no sentido comum, de visão exagerada, ora somente espiritual, ora somente material. E discordo deles, porque penso – sem olvidar ser imemorial esse pensar – que a razão está no meio. Claro, meden agan, como já diziam os gregos, moderação. Todo extremo é perigoso, porque a virtude está no meio. Isso vale para tudo, em todas as áreas da atividade humana.

Não faz sentido algum relegar a felicidade inteiramente para a vida no além, da mesma forma que não passa de extrema loucura pensar a felicidade apenas no mundo material. O ser humano precisa ser visto, pensar e agir de forma holística, porque é corpo e alma, ao mesmo tempo, um todo físico e um todo espiritual. É por isso que precisa ter esperança, tanto material quanto espiritual.  

A vida não se resume apenas à existência física e, muito menos, apenas à existência espiritual. Ainda bem. Ninguém deve abdicar da vida física em plenitude e aceitar como normal a pobreza, menos ainda a miséria. Pobreza e miséria não são condições naturais da vida, são consequências da desigualdade, da exploração do homem pelo homem. Por que uns com tanto e outros sem nada? Por quê? Sei lá! A resposta depende da visão de quem responde.

Salomão, o Pregador do Eclesiastes, ensinava: “A melhor coisa que alguém pode fazer é comer e beber, e se divertir com o dinheiro que ganhou. No entanto, compreendi que mesmo essas coisas vêm de Deus” (Ec 2.24). E Paulo, o apóstolo dos gentios, escreveu: “Se a nossa esperança em Cristo é somente para esta vida, somos as pessoas mais infelizes deste mundo” (1 Co 15.19).            

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