domingo, 24 de abril de 2011

Cartas e bilhetes literários


Gosto de receber correspondência (cartas, jornais, revistas e outros objetos postais). E, lógico, também “e-mails” ou correios eletrônicos, a correspondência virtual. “E-mail”, para quem não sabe, é a forma contraída, muito ao gosto dos falantes do Inglês, da expressão “electronic mail”, que quer dizer correio eletrônico.

Em casa, sempre tive um cantinho mais meu que de todos, onde é posta a correspondência entregue quase diariamente. E logo, ao chegar da rua ou do trabalho, corro para ele, ávido para abrir e ler a correspondência. Quando fiquei solteiro e somente a Ednalva, minha irmã caçula, morava comigo em Xinguara, sendo a casa pequena e modesta, ela punha a correspondência sobre a minha cama e eu, quando entrava em casa, ainda que estivesse com muita fome, ia primeiro ao meu quarto ver se chegara algo.

Chamam minha atenção sempre bilhetes e cartas de contos, romances e crônicas que leio. Posso me esquecer do título e até do autor da obra, mas me lembro, não raro, da carta ou do bilhete. É o caso, por exemplo, citado na crônica “O Quinto Dia do Natal”, de dezembro de 2009. Como explico na crônica, dei o nome de Malone à minha sobrinha nascida anos depois, por causa do bilhete lido no conto policial de cujo título e autor me esqueci.

 Guardei na memória o bilhete de personagem do romance A Viuvinha, de José de Alencar, lido em 1979. Estava no bolso do suposto suicida encontrado na praia com o rosto desfigurado por um tiro de pistola, e dizia: “Peço a quem achar o meu corpo o faça enterrar imediatamente, a fim de poupar à minha mulher e aos meus amigos esse horrível espetáculo. Para isso achará na minha carteira o dinheiro que possuo. Jorge da Silva. 5 de setembro de 1844.” Há cartas e bilhetes memoráveis também, por exemplo, na ficção de Machado de Assis.

Outra carta da ficção de Alencar que, por achar muito bonita, gosto de citar é a do capitão Marcos Antônio Fragoso, no romance O Sertanejo, enviada ao capitão-mor Gonçalo Pires Campelo, como coronéis do Nordeste que se achavam em pé de guerra por questões familiares.

Lembro-me de várias cartas e bilhetes da ficção e também de obras de não ficção, como, por exemplo, a carta do advogado Evaristo de Morais enviada a Rui Barbosa. A resposta de Rui, publicada sob o título O Dever do Advogado, é uma peça de rara beleza, profundidade jurídica e atualidade a toda a prova, não obstante tenha sido escrita em 26 de outubro de 1911.

Por falta de espaço, apenas mais três (cartas, é claro). Duas da personagem Adelaide Campbell, no romance A Madrasta, de Nancy Thayer (uma para Zelda, segunda mulher do ex-marido da remetente, e outra para Jonathan Pease, seu advogado).  E a terceira, a crônica “O telefone”, de Rubem Braga, escrita em março de 1951, na forma epistolar.

Não sei as outras pessoas, eu, porém, tenho fascínio por carta, bilhete e, agora, “e-mail”, a carta eletrônica, virtual ou cibernética. Seria por esse fascínio exercido pela carta sobre as pessoas que muitos livros do Novo Testamento foram escritos em carta, as epístolas? Creio que sim. A Bíblia é cheia de lindas cartas que – para mim e quem mais crê – comunicam a vontade de Deus aos homens. Há quem não creia, claro. Isso, todavia, é outra história e pouco se me dá.

Nenhum comentário: