terça-feira, 16 de novembro de 2010

Encabulado, aliás, quase...

O salmista Asafe diz, no versículo 2 do Salmo 73, que quase se lhe resvalaram os pés e, por pouco, não se lhe desviaram os passos. Aliás, vou transcrever. Na edição revista e atualizada no Brasil da tradução de João Ferreira de Almeida, ele diz exatamente: “Quanto a mim, porém, quase me resvalaram os pés; pouco faltou para que se desviassem meus passos.” E, em seguida, confessa o porquê do seu escândalo ou quase fraquejar: a prosperidade dos ímpios.

Não sou salmista na acepção bíblica nem meu nome é Asafe: sou um crentinho fracote, um cronista de meia-tigela e meu nome é Valdinar. Confesso, contudo, que, muitas vezes, quase se me têm resvalado os pés e, por muito pouco, não se têm desviado meus passos em muitos sentidos. Sinto-me, quase sempre, na contramão. Vou dizer por quê. Dentre outras idiossincrasias ou anormalidades, eu tenho medo dos donos da verdade, eu me sinto profundamente incomodado com a santidade dos crentões e santarrões da minha denominação e das outras denominações também, eu leio a revista Veja, eu gosto das crônicas dos colunistas Diogo Mainardi e Lya Luft, eu assisto, às vezes, a telenovelas da tevê Globo.

Lógico que não gosto de ler as reportagens políticas da Veja, aliás, nem as leio. Não as leio na Veja nem na internet nem em qualquer outro veículo ou meio de comunicação. Vou confessar uma verdade (talvez para vergonha do meu leitor e profunda indignação, vontade de me linchar, ou mesmo quase suicídio de alguns intelectuais meus conhecidos): tenho o orgulho de, por exemplo, não ter ficado sabendo ao longo de toda a campanha, e até hoje ainda não saber, o nome do candidato a vice-presidente da República e agora vice-presidente eleito na chapa da Dilma Rousseff, e de ter ficado sabendo por mero acaso o nome do vice-presidente na chapa de José Serra. Só peço aos meus leitores que não me abandonem por isso.

Tenho amigos sinceros que não gostam da Veja e muito menos do Diogo Mainardi. Um deles, colega do curso de Direito, a quem muito estimo, me disse uma vez, muito zangado, que não aceita o absurdo de Mainardi publicar um livro de crônicas intitulado Lula é minha anta. E disparou, sério: “Que que é isso? Com o presidente da República, rapaz?... Não, é demais!” Mesmo assim, eu disse a ele, na mesma hora, que gosto de quase todas as crônicas de Mainardi. Gosto, sim. Mas eu também gosto das crônicas do imortal da Academia Brasileira de Letras José Sarney, embora não goste do político. Como políticos, não gosto de Jader Barbalho nem de Sarney e tampouco de Ana Júlia, ou de Jatene, para citar apenas alguns nomes.

Quando penso que quase a metade do eleitorado paraense votou em Jader Barbalho para senador da República, fico realmente atormentado e sem saber o que dizer. E o que dizer dos que votaram no Tiririca? Sem palavras, sinceramente, meu caro leitor! Vejo, quase amedrontado até, que sou mesmo um anormal, moral e politicamente falando. Estou, quase sempre, na contramão, discordando da maioria. Tomara que você esteja comigo! Não entendo os brasileiros, assim como não entendo muitas e muitas coisas. Ainda bem! É bom mesmo não saber de certas coisas e situações, como fez o presidente Lula.

Diogo Mainardi, na crônica “Com Dilma, o PT chega em quinto”, publicada na edição 2.191 de Veja, diz sabiamente: “Quem compreende a mente e o comportamento dos brasileiros é Valdemar Costa Neto. Quem compreende a mente e o comportamento dos brasileiros é a Mulher Melancia. Quem compreende a mente e o comportamento dos brasileiros é Chico Buarque. Eles sabem o que os brasileiros querem.” Concordo plenamente. Acrescentaria, no entanto, Paulo Rocha, Jader Barbalho, José Roberto Arruda, João Paulo Cunha, José Sarney, José Dirceu e, enfim, uma lista enorme, que não dá para enumerar. Encabulado, eu? Quase. Mas não estou nem aí para a maioria, embora tenha medo dela. Paradoxo? É mesmo?... Sei lá!

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