segunda-feira, 14 de dezembro de 2009

Marabá e o concerto



Embevecido, assisti, juntamente com a Câmelha e o Samuel, nosso filhinho de quatro anos, em meio a significativo número de outros expectadores, ao mavioso e apoteótico concerto da Orquestra Sinfônica do Theatro da Paz, realizado sábado, dia 12 de dezembro de 2009, na Praça Duque de Caxias, em frente ao Palacete “Augusto Dias”, sede da Câmara Municipal de Marabá. Foi a louvável e muito feliz iniciativa do Prof. Melquíades Justiano da Silva, Secretário Municipal de Cultura, que nos presenteou a todos com a vinda da orquestra pela primeira vez a Marabá, para dar início à programação natalina de 2009, com apresentação pública de clássico e riquíssimo concerto. O projeto “Pará Sinfônico – A Orquestra nos Municípios” chegou a Marabá.

Cheguei, involuntariamente, atrasado e não pude assistir à sinfonia O Guarani, obra imortal de Carlos Gomes, o paulista a quem o Pará, gentil e auspiciosamente, acolheu, em 1895, infelizmente já no fim da vida, fazendo-o diretor do Conservatório de Música do Pará, por ato de Lauro Sodré, então governador do Estado. Assisti, contudo, ao Bolero de Ravel e a outras obras memoráveis da arte musical, sem dúvida, de igual valor. Gostei. Achei o máximo. Como se diz na gíria: Arrasaram!


Interessante e digno de nota foi o gesto do maestro Enaldo Oliveira, que é doutor em Regência de Orquestra, quando se dirigiu à plateia, mais ou menos ao meio do concerto, para dizer do seu amor ao rio Tocantins, como filho da vizinha cidade de Tucuruí, e também para incentivar os presentes a desenvolverem a vocação para a música, pois a música, de forma gratificante, o levou a conhecer o mundo.

Marabá, que é berço de cultura poética a começar pelo nome, terra dos poetas Frederico Morbach, Aziz Mutran Filho e Ademir Braz, dentre tantos outros intelectuais ilustres, mas injustamente desamparados e esquecidos, há muito faz jus a iniciativas simples, mas de envergadura e valor inexprimível, como esta. É preciso, com acuidade, vontade bem-agradecida e firmeza de propósitos, sacudir o marasmo e rasgar o véu da inércia, quando não do descaso, que de forma funesta vêm, respectivamente, imobilizando instituições e encobrindo pessoas de nossa cidade.

É preciso valorizar o nosso intelectual, a nossa cultura, o nosso folclore, as nossas tradições, o nosso povo. Marabá, que já nasceu grande e rica, coberta de belezas naturais e com vocação inolvidável para o progresso, precisa disso!

Ao enlevo da sinfonia, povoaram-me a mente pessoas e amigos ilustres ligados à poesia, à musica e outras formas de cultura (alguns vivos, outros já falecidos), como além dos já citados, faço questão de nomear Guilherme José Purvin de Figueiredo, Luz Marina de Alcântara e Waldemar Henrique da Costa Pereira. Destes, os dois primeiros são meus amigos do mundo virtual (a Luz Marina, aliás, conheço pessoalmente desde 1981); o terceiro e último, é o maestro-símbolo paraense, de renome internacional, a quem não tive a oportunidade de conhecer.

Luz Marina é insigne educadora de artes e música, de Goiânia, Estado de Goiás, membro de academia de letras e artes, viva e galhardamente reconhecida pelo seu Estado; Guilherme Purvin, doutor em Direito pela Universidade de São Paulo e professor universitário, é o atual presidente do Instituto Brasileiro de Advocacia Pública (Ibap), sediado em São Paulo, e, como intelectual de refinado bom gosto, muito fala das músicas preferidas, artistas, discos e cedês, nas belas crônicas que escreve; Waldemar Henrique, falecido em 1995, foi intelectual paraense de primeira grandeza, membro de várias academias, maestro, escritor e compositor, dentre outras prendas, contado e decantado pelo mundo.

Dessas lembranças veio a decisão de reler o livro Waldemar Henrique: Só Deus Sabe Porque, posto imediatamente a engrossar o volume de obras que estou lendo (tenho o hábito, não sei se bom ou ruim, de ler vários livros ao mesmo tempo). O exemplar que possuo é da edição de luxo, comemorativa do 84º aniversário de Waldemar Henrique, publicada pela Fundação Cultural do Pará “Tancredo Neves”, em 1989, que comprei em 1990, li e agora estou relendo.

Para encerrar a crônica, estas palavras de Luís da Câmara Cascudo: “Waldemar, enquanto você estiver na terra, falta um anjo no céu!”. Este é o Pará que eu amo e deve ser divulgado: Pará sinfônico, Pará cultural, Pará do bem!

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