quarta-feira, 27 de fevereiro de 2008

Profiteroles



Ainda não conheço profiteroles e Deus me livre do exitus letalis, muito embora uma coisa nada tenha que ver com a outra. Aliás, exitus letalis, como homem de carne e osso que sou, só desejo para os inimigos incorrigíveis. E, mesmo assim, somente quando a carne, ou seja, o velho homem fala mais alto, pois a Bíblia diz que devemos amar nossos inimigos e desejar-lhes o bem, sejam eles a nosso ver corrigíveis ou não. Logo, exitus letalis não é coisa que se deseje a ninguém, nem mesmo aos inimigos. Já o profiteroles, não: pode, sim, ser desejado e oferecido aos amigos.

Pode não ser tão óbvio assim, mas profiteroles e exitus letalis não são sequer parentes entre si. Apenas o fim de seus nomes é parecido, até porque, pela pronúncia, profiteroles bem que poderia ser profiterolis, ou profiterólis. Digo isso, contudo, considerando apenas a pronúncia. Não fui atrás da etimologia. Profiterolis, sem acento agudo no segundo o, seria latim. Já profiterólis, com acento agudo no o da penúltima sílaba, poderia ser transliteração de palavra grega, como pólis, palavra transliterada do grego, que significa cidade. Mas, repito, não fui atrás da etimologia da palavra profiteroles: estou apenas brincando como cronista de meia-tigela que sou.

Pois bem. Nossa ignorância, que jamais poderá ser entendida como nossa estupidez, é infinitamente superior ao nosso conhecimento. “Só sei que nada sei”, a velha lição de Sócrates, jamais deverá ser esquecida. Logo, não saber o que é ou quer dizer profiteroles ou exitus letalis não é demérito para quem quer que seja.

Profiteroles, como aprendi recentemente, é um tipo de bolo, a respeito do qual vim a saber depois, ao consultar a enciclopédia eletrônica Wikipédia, que é sobremesa muito apreciada na França. Exitus letalis, por sua vez, é uma expressão latina que significa resultado letal. Ou seja, exitus letalis é óbito, ocisão ou morte. Aliás, ocisão, palavra que aprendi em 1991 ao ler um artigo acadêmico sobre a pena de morte, creio que também seja desconhecida por muitos falantes bem informados da última flor do Lácio.

Ao saber da origem francesa do profiteroles, lembrei-me logo do meu amigo professor doutor Gutemberg Guerra, professor da Universidade Federal do Pará, no campus de Belém, cujo doutoramento se deu em Paris e que, certamente, deve ser apreciador do profiteroles, como pessoa de bom gosto que é.

Pois sim, aprendi o que é profiteroles ao participar, nos dias 21 e 22 de fevereiro do 2008, do fórum “A Regularização Fundiária Urbana no Pará”, evento que se realizou em Marabá devido a um convênio celebrado entre a União e o Estado do Pará, que tem como objeto um ciclo de capacitação e assistência técnica para a implementação dos instrumentos do Estatuto da Cidade na regularização fundiária urbana. Foi, na realidade, o primeiro de três encontros a que se denominou Oficinas Microrregionais, em que a União é representada pelo Ministério das Cidades, e o Estado do Pará, pela Secretaria de Estado de Desenvolvimento Urbano e Regional (Sedurb), Instituto de Terras do Pará (Iterpa) e outros órgãos estaduais.

Foi na palestra do doutor José Ackel, arquiteto da Sedurb. E aí, quando ele falou em profiteroles, eu fiz uma brincadeira. Escrevi, como se fora aluno travesso, um bilhete que passei ao doutor Ramiro Gomes, advogado militante em Marabá e procurador jurídico da Superintendência de Desenvolvimento Urbano de Marabá (SDU), no qual dizia: “O profiteroles deve ser primo do exitus letalis.”

No fim da palestra (por sinal muito boa, porquanto o expositor pareceu-me um professor nato), falei da minha brincadeira e expliquei que a expressão latina exitus letalis foi objeto de uma crônica do cronista e romancista carioca Rubem Fonseca. É que o escritor Rubem Fonseca tem, como eu também tenho, a mania de ler bulas de remédio. E, lendo ele a bula de certo medicamento, encontrou a pérola exitus letalis, empregada como eufemismo para resultado morte. Não falei na ocasião, porque estava premido pelo tempo, mas existe também um livro com o título Exitus Letalis, que fala sobre a eutanásia e coisas parecidas.

O evento foi coroado de pleno êxito (a propósito, êxito vem do latim exitu e quer dizer resultado). Deverá haver mais dois, em todos eles, envolvidos os Municípios de Eldorado do Carajás, Parauapebas e Rondon do Pará, tendo Marabá como município-pólo. Deixo, contudo, de falar mais sobre os outros aspectos por não ser esse meu objetivo. Não se trata de uma reportagem sobre o evento, mas de uma crônica sobre a palavra e a expressão discutidas, que julguei interessante escrever. Eu gostei; espero que outros também gostem!

Ah, sim! Na mesma ocasião houve quem tivesse dúvida se a palavra pólo, no sentido empregado, é ou não é acentuada graficamente. Respondo, como respondi, que não há dúvida: é acentuada graficamente sim. Leva, no primeiro o, o sinal diacrítico a que se chama acento agudo. Isso, contudo, já é assunto de outra crônica.