quarta-feira, 9 de janeiro de 2008

É bom ser amigo de alguém



“... é bom ser amigo de alguém e ter a satisfação de ser reconhecido como tal”, escreveu o cronista maranhense radicado em Brasília, Distrito Federal, Innocêncio de Jesus Viégas (assim mesmo, Innocêncio, com dois “n”), na crônica “A Sabedoria do Mendigo”, publicada no livro Contos, Cantos e Encantos. Verdade. É bom, muito bom, ter amigos e deles ter o reconhecimento.

Recebi hoje, 8 de janeiro de 2008, na Procuradoria Jurídico-Legislativa da Câmara Municipal de Marabá, Estado do Pará, a visita dos irmãos Nilson, Nilton e Nilza Gomes Carneiro, ex-xinguarenses como eu, que desde os anos 1990 (o Nilson, até um pouco antes disso) residem em Goiânia, Estado de Goiás. Não tenho palavras para exprimir a alegria que tomou conta de mim! Por razões diversas, é óbvio. São pessoas a quem estimo no mais profundo significado dessa palavra, muito embora conhecesse pessoalmente, desde os anos 1990, apenas o Nilton.

Eles (como eu, minha mulher e algumas outras pessoas em situação semelhante à época), contrariando o destino que nos fora imposto por fatores e circunstâncias diversos (principalmente o fato de sermos pobres e morarmos em Xinguara, Estado do Pará, na década de 1980), conseguiram romper as barreiras e empecilhos de toda a sorte e lograr concluir a formação superior. A despeito daquela perspectiva sombria, terrível e ameaçadora, Nilson e Nilza são advogados como eu, Nilton é contador e acadêmico de Direito. Nilza também é licenciada em Letras. “Uma vez libertos da dificuldade, é grato relembrar os perigos”, diz Eurípides, na Andrômeda, citado por Aristóteles, na Arte Retórica.

Nilton sempre me falou dos irmãos dele, com admiração profunda e contagiante. Falava a mim e à Câmelha, minha mulher, que foi colega dele no curso de Magistério, em Xinguara, notadamente do Nilson, irmão mais velho, que, sonhador e por isso mesmo inconformado com a situação, fora para Goiânia. Não somente foi. Foi e depois levou irmãos e até amigos, por incentivar a todos, incutindo-lhes a necessidade de buscar em outros lugares educação, saber, cultura e melhor condição de vida que o meio não oferecia.

Na década de 1990, éramos funcionários da Prefeitura Municipal de Xinguara, quando Nilton foi para Goiânia, em 1993 ou 1994, cursar Ciências Contábeis, e eu mais a Câmelha viemos para Marabá, em 1996. Eu vim já para cursar Direito, na Universidade Federal do Pará; a Câmelha depois viria a cursar Pedagogia.

Ainda que distantes geograficamente, continuamos amigos e nos comunicávamos por telefone. Foi assim por vários anos, até que, devido a mudanças dele em Goiânia, a comunicação cessou, teve solução de continuidade. Daí, agora, a alegria indizível do reencontro, que me fez lhes enviar este e-mail (nesta acepção, em Português, correio eletrônico):

“Nilton, Nilson, Nilza:

Vocês não imaginam (e eu não consigo expressar) a alegria que me proporcionaram com sua visita hoje: alegria por saber que estão indo bem na vida; alegria por rever o Nilton e conhecer os demais, de quem ele sempre me falava com admiração; alegria de saber que agora estaremos muito mais perto e jamais voltaremos a perder o contato; alegria de saber que virão para a região atuar profissionalmente; alegria pela amizade sincera que nos une a todos! Ganhei o dia!

Daí o escrever agora, profundamente emocionado, este e-mail (que certamente transformarei em uma crônica, pois para mim tudo dá uma boa crônica). Escrevo para registrar o momento e demais disso para, reforçando, lhes informar meus telefones, endereços eletrônicos e endereços dos blogs, telefones e endereços nos quais estarei, com imensa alegria, sempre à disposição.

Meus telefones (código de área 94) são: ... (residência), 3321-1684 (Procuradoria Jurídico-Legislativa da Câmara Municipal de Marabá), e os celulares ... e ... Os e-mails (prefiro dizer, em Português, endereços eletrônicos): dr.valdinar@bol.com.br, dr.valdinar@uol.com.br, dr.valdinar@gmail.com, dr.valdinar@hotmail.com e dr.valdinar@yahoo.com.br. E os endereços dos blogs: http://valdinar.zip.net/, http://adv.vms.zip.net/, http://vms.uniblog.com.br/ e http://valdinar.blogspot.com/. E também http://adv.vms.zip.net/, que foi meu primeiro blog, a respeito de cujo nome escrevi a crônica ‘Esotérico demais: fim da picada!’.

Como lhes falei, publico nesses blogs meus artigos e crônicas também publicados nos jornais marabaenses (Correio do Tocantins e Opinião). Acessem os blogs, leiam os textos e, querendo, façam comentários. Comentários de leitores são sempre bem-vindos. E vindo de vocês então nem é necessário falar da importância que terão sempre para mim.

Muito obrigado pela visita. E um abraço todo especial.”

Viva a amizade sincera e desinteresseira! “A amizade de virtude é a verdadeira amizade, a amizade por excelência, pela qual o amigo virtuoso é amável em si e por si: ele não é amado pelo prazer de sua companhia, ou pela utilidade que dele pode emanar, mas pela própria virtude que amamos nele”, diz Aristóteles, na Ética a Nicômaco.

quinta-feira, 3 de janeiro de 2008

O Dono da Lua



Andei relendo, dia de Ano-novo, crônicas de Carlos Heitor Cony, Carlos Chagas, Zevi Ghivelder e Josué Montello, em algumas revistas Manchete de 1990 e 1991, que guardo como verdadeiro tesouro. Reli, dentre outras, as crônicas “O hímen idôneo”, “O chá das peruas”, e “Hora e vez da raspadinha”, de Carlos Heitor Cony. De Carlos Chagas, um realce para a crônica “A história de uma ignomínia”, sobre a infame cassação do mandato e dos direitos políticos de Juscelino Kubitschek. De Josué Montello, a crônica “Riso e drama dos pequenos anúncios”. Gosto de reler meus livros, jornais e revistas.

Antes li a Bíblia Sagrada. Minha primeira leitura de 2008 (em casa, ainda durante a madrugada, após a ceia, na Igreja Presbiteriana) foi Efésios 4,4-6, na versão revista e atualizada no Brasil da tradução portuguesa de João Ferreira de Almeida, segunda edição, publicada pela Sociedade Bíblica do Brasil. Dizem esses versículos, em continuação ao texto do versículo 3: “há somente um corpo e um Espírito, como também fostes chamados numa só esperança da vossa vocação; há um só Senhor, uma só fé, um só batismo; um só Deus e Pai de todos, o qual é sobre todos, age por meio de todos e está em todos.”

E as crônicas? Bom, as crônicas são todas excelentes (sei lá, pelo menos, eu acho), mas não dá para comentá-las aqui, por falta de espaço. Daí, vai apenas um rasgo da crônica “O hímen idôneo” (Manchete de 8 de junho de 1991), que se ocupa do anúncio de um hímen (hímen idôneo, ressalta o anúncio) posto a venda. Uma virgem de Minas Gerais, que se oferece por Cr$ 200.000,00, quantia que (para quem não se lembra da moeda ou não a conheceu) se lê: duzentos mil cruzeiros.

Veja, leitor, a elegante ironia do cronista: “Honestamente, encarei a oferta com naturalidade e, embora sem interesse pessoal na oferta, continuei na minha, muito mais preocupado com os meus problemas do que com a venda de um hímen das Alterosas. Afinal, há discreto comércio de rins, fígados, olhos, pâncreas, piloro (não tenho certeza se vendem piloros no mercado, mas um dia chegaremos lá). Nada de admirar que uma donzela mineira, e idônea ainda por cima, ofereça sua intacta membrana aos potenciais consumidores de um artigo que tradicionalmente tem estoques regularizados.”

Outro texto que reli foi uma pequena reportagem sobre o dono da Lua. Sabia, por acaso, o leitor que a Lua tem proprietário, com registro em cartório de imóveis e tudo? Aliás, nem era preciso falar em registro, já que, ao se falar de proprietário de imóvel, fica sempre implícito que há o registro. “Quem não registra não é dono”, diz a máxima jurídica. Pelo menos no Direito Civil Brasileiro, porquanto, segundo nosso Direito Positivo, a transferência da propriedade imóvel somente se dá com a transcrição da compra e venda no registro de imóveis. “Transfere-se entre vivos a propriedade mediante o registro do título translativo no Registro de Imóveis”, diz, por exemplo, o art. 1.245 do Código Civil de 2002, em vigor.

Pois bem. A Lua, que contemplamos de longe (às vezes, até parece muito perto, é verdade; mas é apenas ilusão ótica), o satélite da Terra, é propriedade do advogado, violinista, poeta e escritor chileno Jenaro Gajardo Vera. Está escrito (transcrito, como dizemos no linguajar jurídico) no Registro de Imóveis de Talca, no Chile. Saiu na Manchete de 16 de junho de 1990, sob o título: “O Dono da Lua”. (É lógico. Tinha de ser um advogado. E, ainda por cima, poeta.)

Imagino a perplexidade do tabelião, diante do inusitado pedido de registro. Contudo, por fim, ele se rendeu às evidências e concluiu (diz a Manchete): “Mas o senhor está certo, a Lua tem fronteiras e dimensões, pertence à Terra e ainda não foi registrada. O senhor deve publicar três comunicados no Diário Oficial e se não houver objeção alguma até o terceiro dia, a Lua é sua.” Assim foi feito. E o doutor Jenaro Gajardo Vera tornou-se dono da Lua, mediante registro imobiliário com efeito erga omnes. “Efeito erga omnes”, na linguagem jurídica, quer dizer “efeito oponível contra todos”.

Pois é. Registro com efeito erga omnes, sim senhor! Tanto é que o presidente norte-americano Richard Nixon, em 1969, enviou a Jenaro o seguinte telegrama: “Em nome do povo dos Estados Unidos, lhe peço permissão para os astronautas Aldrin, Collins e Armstrong pousarem no satélite que lhe pertence.” É muita moral, meu! É mole, ou quer mais, mano velho?

Aliás, também reli (não na Manchete, mas na Veja: retrospectiva de um quarto de século, 25 anos, parte integrante da edição 1.311 da revista Veja, de 27 de outubro de 1993), a carta de renúncia de Richard Nixon, enviada ao então Secretário de Estado Henry Kissinger, em 9 de agosto de 1974. Seu texto, abaixo da data e do timbre da Casa Branca: “Dear Mr. Secretary: I hereby resign the Office of President of the United States. Sincerely, Richard Nixon.” Em Português: “Prezado Senhor Secretário: Por este meio, renuncio ao cargo de presidente dos Estados Unidos. Atenciosamente, Richard Nixon.” Como se vê, não foi uma carta, foi um bilhete. Do ponto de vista da dimensão física, é claro.

Por hoje, é só. Como escrevi, em 16 de outubro de 2006, em “Assuntos para meu blog”, comentar minhas leituras pode ser chato, ou porque são muitas, ou porque os assuntos lidos não são amenos para muita gente. E talvez nem sejam interessantes. Há, contudo, leitores que gostam, o que por si só é suficiente.

Feliz 2008 para todos, leitores e não leitores!